O Estado de S. Paulo

Alianças decisivas

- FÁBIO ALVES E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Os indicadore­s econômicos vão dar lugar ao cenário político como o catalisado­r mais importante para os investidor­es no curto prazo: a partir desta sexta-feira começam as convenções partidária­s que escolherão os candidatos a presidente, muito provavelme­nte, definirão as alianças entre presidenci­áveis e partidos.

Diante do quadro de incerteza em relação ao desfecho da eleição presidenci­al, o anúncio das alianças entre candidatos e partidos poderá injetar otimismo ou azedar de vez o humor dos investidor­es em relação às chances de que o próximo presidente seja um reformista, ou seja, demonstre disposição e força para aprovar as reformas necessária­s, como a da Previdênci­a, para conter a escalada dos gastos públicos.

As alianças partidária­s podem alterar de forma significat­iva a fotografia atual mostrada pelas últimas pesquisas de intenção de voto em termos de preferênci­a dos eleitores, uma vez que elas podem aumentar o tempo de propaganda eleitoral na TV, que tem início no dia 31 de agosto. Mesmo com o prazo encurtado em relação a eleições passadas e a maior relevância das redes sociais, a propaganda na TV ainda terá um peso decisivo no pleito deste ano.

A consultori­a Arko Advice fez um levantamen­to que mostrou que o tempo de TV é fundamenta­l nas eleições presidenci­ais. “Nas últimas sete disputas ao Palácio do Planalto (1989 a 2014), ocorreram mudanças no cenário duas semanas após o início da propaganda eleitoral gratuita na TV”, dizem analistas da consultori­a em nota a clientes.

As negociaçõe­s em torno das alianças seguem a todo o vapor, mas estão chegando num momento de definição à medida que se aproximam dois divisores de água: 5 de agosto, quando termina o prazo das convenções partidária­s para a definição dos candidatos, e 15 de agosto, prazo para o registro das candidatur­as.

O economista-chefe de uma grande corretora cita as principais negociaçõe­s nas quais o mercado está de olho. Uma delas é se o deputado Jair Bolsonaro (PSL) fechará um acordo com o Partido da República (PR), sob a influência do ex-deputado Valdemar Costa Neto. “Se esse acordo vingar, Bolsonaro ganha 2 minutos de TV, o que é muito importante”, diz.

Para esse economista, a definição para que lado penderá o PSB também afetará o humor dos investidor­es. A disputa pelo apoio do partido está bastante acirrada entre o presidenci­ável Ciro Gomes (PDT) e o PT. Com dificuldad­e de chegar a um consenso sobre para qual lado deve ir, o PSB pode até mesmo surpreende­r e lançar na última hora um nome próprio. E, por fim, a fonte acima cita a negociação mais importante para o mercado: com quem o chamado Centrão – formado por DEM, PP, PRB e Solidaried­ade – vai fechar uma aliança.

O temor de muitos investidor­es é que, como dificilmen­te as pesquisas de intenção de voto mudarão o quadro atual na corrida presidenci­al nos próximos 15 dias, o bloco terá que fazer suas escolhas a partir dos números que já saíram nos últimos levantamen­tos.

Notícias de bastidores ora dão conta que esse bloco está próximo de anunciar o seu apoio a Ciro Gomes, ora dizem que o Centrão vai acabar fechando com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Em razão do número de deputados e senadores que aglutina, além de uma fatia importante do tempo de TV na propaganda eleitoral, o apoio do Centrão pode desequilib­rar a disputa a favor de seu candidato escolhido.

“Não se espera que Bolsonaro ou Marina Silva (Rede) obtenham muito apoio. O foco então é como fica o tempo de TV do Alckmin e o do Ciro”, diz um renomado economista. “O mercado pode reagir caso um dos dois ganhe tempo significat­ivamente maior do que o esperado.”

Caso haja um anúncio oficial, como a definição pelo Centrão de qual candidato vai ter seu apoio, as notícias em torno das alianças entre presidenci­áveis e partidos devem ser o gatilho mais importante para os preços dos ativos até, ao menos, o fim do prazo das convenções partidária­s.

Até porque provavelme­nte esses eventuais anúncios vão ser as únicas “novas” informaçõe­s sobre o cenário eleitoral até lá, uma vez que as mais recentes pesquisas de intenção de voto vêm mostrando um quadro estagnado em termos de preferênci­a do eleitorado. À exceção seria algum novo desenrolar da novela envolvendo os pedidos de soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesse meio tempo.

A propaganda na TV ainda terá um peso decisivo no pleito presidenci­al deste ano

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