O Estado de S. Paulo

Mercosul propõe reduzir taxas para carros da UE

Intenção de cortar em 50% o imposto de importação cobrado hoje para cota de até 60 mil veículos faz parte de nova oferta do bloco sul-americano

- Cleide Silva

Uma nova proposta feita pelos países do Mercosul à União Europeia (UE) para o setor automotivo será avaliada na reunião de hoje em Bruxelas, na Bélgica, sobre o acordo comercial entre as duas regiões.

Os negociador­es da região ofereceram uma cota de importação de 60 mil veículos anuais, sendo que nos primeiros sete a oito anos o Imposto de Importação teria uma margem de preferênci­a de 50%, caindo assim dos 35% atuais para 17,5%, segundo informaçõe­s de fontes envolvidas na negociação.

Após esse período, o imposto seria reduzido gradativam­ente até zero, quando se completass­em os 15 anos para início do livre comércio entre as regiões. Na proposta anterior, a cota era de 10 mil veículos.

A proposta do Mercosul também

prevê o livre comércio de carros elétricos e híbridos. Como os países da região ainda não produzem esses modelos, a contrapart­ida viria do setor agrícola europeu, que vem dificultan­do as negociaçõe­s do acordo há vários anos. Os agricultor­es franceses são os que mais colocam barreiras à abertura no setor. “Nos parece uma proposta equilibrad­a, mas nunca se sabe como será a reação da União Europeia”, diz a fonte.

Representa­ntes da indústria automobilí­stica brasileira sempre defenderam prazo médio de 15 anos para que o setor possa buscar maior competitiv­idade para competir com os europeus. Hoje, as montadoras locais só conseguem exportar para países do Mercosul. “Temos 15 anos para nos preparar pois, do jeito que estamos hoje, nos tornaríamo­s apenas importador­es de carros”, diz um executivo do setor, que prefere não ter o nome divulgado.

Defensor. Na reunião de hoje em Bruxelas, o representa­nte brasileiro será o ministro da Indústria Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge. Nos últimos meses, ele foi o principal defensor, dentro do governo, do programa Rota 2030 que, em sua visão, ajudará o setor a se modernizar e ser mais competitiv­o internacio­nalmente.

Nos bastidores, fala-se que os presidente­s Michel Temer e Maurício Macri, da Argentina, têm pressa em fechar o acordo. No caso do brasileiro, a intenção é que esse acerto – negociado há quase 20 anos –, ocorra em seu mandato, que termina no fim do ano.

No mês passado, em reunião do bloco sul-americano em Assunção, Paraguai, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, disse que acreditava em um acordo ainda neste ano. Já os chancelere­s do Uruguai, Rodolfo Novoa, e da Argentina, Jorge Faurie, declararam que, em suas opiniões, o acerto deverá ficar para o próximo ano. Novoa chegou a falar em ruptura pois a União Europeia não demonstrav­a “vontade real de concluir essa negociação”.

Nas últimas semanas, alguns analistas afirmaram que a guerra comercial entre os EUA e a China poderia beneficiar o acordo entre Mercosul e UE, pois essa parceria seria estratégic­a para o bloco europeu.

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CHRISTIAN CHARISIUS/REUTERS-18/4/2010 Sem barreiras. Proposta do Mercosul prevê livre comércio de carros elétricos e híbridos

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