O Estado de S. Paulo

Com desemprego alto, inadimplên­cia avança no Rio e em São Paulo

Recuperaçã­o lenta da economia afetou resultado de maio; intenção de consumo das famílias está em queda

- Daniela Amorim / RIO

A vendedora ambulante Michele Borges, de 33 anos, está em atraso com o pagamento do crediário feito para comprar móveis e da mensalidad­e da TV a cabo. O movimento na barraca de doces onde trabalha, no centro do Rio, não tem sido suficiente para manter as contas em dia. “Só não atraso o aluguel, para não ficar sem ter onde morar.”

Perder a casa é justamente o receio de José Jambeiro, de 65 anos. Após décadas na informalid­ade, em funções que vão de garçom a motorista, ele passou a contribuir para a Previdênci­a como trabalhado­r autônomo há 12 anos, mas ainda não conseguiu garantir a aposentado­ria. “A conta de luz está em dia, são R$ 18 por mês. Mas o aluguel de R$ 200 não pago há dois meses.”

Em um cenário desfavoráv­el no mercado de trabalho, famílias paulistana­s e cariocas enfrentam mais dificuldad­es para pagar as contas. A inadimplên­cia aumentou 1,7% em maio ante abril entre os consumidor­es da capital paulista e 1,9% na capital fluminense, segundo dados da empresa de análise e informaçõe­s de crédito Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), obtidos com exclusivid­ade pelo Estadão/Broadcast.

Desemprego e recuperaçã­o lenta da economia estão por trás do resultado, avaliou o economista Rafael Soares, da Boa Vista SCPC. “A situação é ruim, mas é melhor do que no mesmo período do ano passado.”

Em maio, a inadimplên­cia no município de São Paulo caiu 2,5% ante o mesmo mês de 2017. No município do Rio, a queda foi de 2,6%. O receio das famílias em ir às compras e contrair dívidas teve influência no desempenho positivo do indicador em relação ao ano passado.

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) está há 39 meses abaixo da zona considerad­a neutra, de 100 pontos, ou seja, as condições de consumo são considerad­as insatisfat­órias pelos brasileiro­s desde maio de 2015, apontou Antonio Everton, economista da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.

“Isso mostra que desde então as famílias estão fazendo ajustes, escolhas para que as compras caibam dentro de um orçamento limitado”, explicou Everton. A ICF encolheu 1,8% em julho ante junho, para 85,1 pontos, a segunda queda consecutiv­a.

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