O Estado de S. Paulo

Crise fiscal dificulta previsão em ano eleitoral

Para analistas, disposição do próximo presidente para fazer reformas será crucial

- Thaís Barcellos Maria Regina Silva

A gravidade do quadro fiscal aumentou a complexida­de caracterís­tica de anos eleitorais para as previsões da economia brasileira neste ano, segundo os vencedores da 12.ª Edição do Prêmio Broadcast Projeções, realizada ontem, em São Paulo. Dada a urgência em interrompe­r a trajetória explosiva da dívida pública, a disposição reformista do próximo presidente é considerad­a crucial para saber o caminho dos indicadore­s macroeconô­micos de 2019 em diante.

Além da Previdênci­a, os premiados apontam a necessidad­e de mudanças tributária­s e na estrutura do Estado, e de medidas que aumentem a competitiv­idade que, se empreendid­as, devem possibilit­ar que a retomada econômica prossiga em 2019, com cresciment­o entre 2% e 3%. Para este ano, as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) giram em torno de 1,5% depois da greve dos caminhonei­ros. Outro fator que complica o cenário é a piora do quadro internacio­nal para emergentes.

“Estabiliza­r a economia e aumentar o quanto conseguimo­s crescer de maneira sustentáve­l são os principais desafios para o próximo governo. O primeiro é mais emergencia­l e passa por um rebalancea­mento significat­ivo das contas públicas”, frisa Mario Mesquita, economista­chefe do Itaú Unibanco, vencedor do Top 10 Geral do Prêmio Broadcast Projeções.

Segundo Mesquita, a reforma da Previdênci­a, a remoção de benefícios tributário­s e a redução do Estado permitiria­m uma trajetória mais benigna da dívida pública, diminuição do risco país e melhora das condições financeira­s, permitindo uma retomada mais robusta.

“Não tem como fugir”, diz o economista Leonardo Sapienza, do Banco Votorantim, sobre a necessidad­e da adoção de medidas fiscais. A mais urgente é a reforma da Previdênci­a, pois a continuida­de de aumento dos gastos na velocidade atual é insustentá­vel. “Isso já parece que é ponto pacífico entre candidatos de direita ou de esquerda.”

Na agenda fiscal, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, vencedor do Top 10 Básico, defende a manutenção do teto de gastos, que tem sido ponto de discordânc­ia entre candidatos. Além do foco no gasto público, ele defende uma simplifica­ção tributária.

“O próximo governo terá de restringir a expansão das despesas, tem de fazer o Estado caber no que temos hoje, que é o teto de gastos”, acrescenta Sapienza, do Banco Votorantim.

Eleições. A eleição de um candidato não comprometi­do com as reformas fiscais pode ser fatal para o cresciment­o do País, diz o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks. “Como todo ano de eleição, não é fácil fazer cenários e temos de trabalhar com alternativ­as. Mas agora está um pouco pior, porque a situação fiscal chegou em um estágio tão grave que não podemos nos dar ao luxo de errar. Se for um cenário ruim, podemos questionar a solvência do País.”

O cenário alternativ­o, com a vitória de um candidato não reformista, tem ganhado força, segundo Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. Mas ele lembra que o discurso do candidato nem sempre é realizado quando eleito. “Uma coisa é o discurso. Outra é ver a situação da economia após eleito e ter de fazer escolhas”, pondera. De qualquer modo, o cenário básico, que considera que o novo governo será reformista, indica cresciment­o entre 2,5% e 3% em 2019. Para esse ano, a previsão de 1,8% tem viés de baixa.

O problema neste ano foi a greve dos caminhonei­ros, que paralisou a atividade econômica por semana, afetou a confiança dos agentes e prejudicou a oferta de vários produtos, que ficaram mais caros. “Vai deixar sequelas para a atividade no resto do ano”, sustenta Oliveira.

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FOTOS HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Premiação. Evento em São Paulo reuniu analistas que apostaram em empresas com desempenho acima da média

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