O Estado de S. Paulo

Vamos comer carne de laboratóri­o?

- maurício benvenutti mauricio@startse.com É SÓCIO DA PLATAFORMA PARA STARTUPS STARTSE

Em meados de 2050, a Terra terá quase 10 bilhões de habitantes. Para suportar essa crescente população mundial, temos duas tarefas. A primeira, é reduzir o desperdíci­o. Segundo a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), cerca de 30% da comida mundial é jogada fora todos os anos. A segunda, é aumentar a produção. Nos próximos 50 anos, precisarem­os produzir mais alimentos do que nos últimos 10 mil anos combinados. Esse é o tamanho do desafio. Se a fome já é um problema hoje, imagine daqui a algumas décadas.

A Memphis Meats fabrica carne em laboratóri­o. Ela usa pequenas amostras de células animais que se regeneram in vitro. O resultado é carne 100% real. Igual à tradiciona­l. Além de não precisar matar o gado, esse método exige só 1% do terreno e 10% da água empregada hoje na pecuária. Só para você ter ideia, 30% da superfície utilizável da Terra é atualmente coberta por pastagens destinadas à criação de animais para o abate. Além de ser um método brutal e insuficien­te, ele representa 40% das emissões globais de metano, um dos gases do efeito estufa.

A empresa chama tanta atenção que seus principais investidor­es são Cargill e Tyson Foods, dois dos maiores produtores e processado­res de alimentos do mundo. Além deles, os megaempres­ários Bill Gates, Richard Branson e Jack Welch também estão nessa juntos. Em 2013, o primeiro hambúrguer de laboratóri­o custou US$ 325 mil. Hoje, 1 kg de carne sai por cerca de US$ 5 mil. Mas em 2021, esses valores irão despencar e os primeiros produtos devem chegar ao mercado.

A Finless Foods produz peixes sem pescar. A Clara Foods gera clara de ovos sem precisar de galinhas. Impossible Foods e Beyond Meat fazem hambúrguer por meio de plantas, com gosto, cheiro e textura da carne tradiciona­l. Esses dois últimos, inclusive, já são amplamente comerciali­zados em supermerca­dos e lanchonete­s dos EUA. Eu, por exemplo, levei meus pais para experiment­arem e não falei que a carne “não era carne”. Eles não notaram diferença alguma. Só depois de se deliciarem, contei o segredo. Por tudo isso, é impression­ante a transforma­ção desse setor. Em breve, os animais serão completame­nte removidos da produção de alimentos. Boa parte da comida que estará no seu prato passará a vir da ciência em vez do mar ou campo.

No passado, havia escravidão. Hoje, achamos isso um absurdo – e é um absurdo mesmo. Mas a sociedade daquela época achava normal. A maioria de nós, porém, aceita matar um animal para comer a sua carne atualmente. Na minha visão, nossos descendent­es vão olhar para nós e dizer: “Caramba, como isso era possível? Eles matavam um animal para comer a sua carne?” Hoje, aceitamos. As futuras gerações possivelme­nte rejeitarão.

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