Com 76 anos de vida e 50 de carreira, o carioca Luiz Ayrão prepara disco de inéditas
Luiz Ayrão continua parecido com o menino que, há 50 anos, saiu de trás das composições e foi para o palco para se apresentar na TV Excelsior. O cabelo permanece encaracolado e negro, chamando a atenção das pessoas. A voz, profunda e bem agradável, quase não teve mudanças da que entoou os versos de Liberdade, Liberdade e, em seguida, levou-o para os microfones. Porém, as histórias que saem em disparada pela boca de Ayrão entregam sua experiência.
“Tenho muita história para contar, muita coisa para fazer ainda”, afirma em entrevista ao Estado. O cantor, escritor e compositor carioca, aliás, já tinha dado o recado lá pelos idos da década de 1980, quando cantou os versos “queiram ou não queiram, vocês vão ter que me aturar”, da canção Eu Sou a Música Popular Brasileira. Com 76 anos de vida e 50 de carreira, Ayrão atravessou as décadas, as crises e ainda olha para o futuro com entusiasmo.
Segundo ele, os projetos são vários: tem uma fornada de composições saindo, prontas para ganhar o mundo; um disco de sambas inéditos, compostos por ele e com algumas participações, como a de Monarco; e um outro, um pouco mais experimental, gravado todo em espanhol. “Estou em um momento de muita força e criatividade. Estou feliz em compor, em criar”, afirma Ayrão. “Mas meu foco, agora, é lançar o disco de sambas. Acredito que é um ritmo que está ganhando força novamente. Como dizem, samba agoniza, mas não morre”, conta ainda.
A alegria em estar se preparando para voltar aos estúdios é justificável. Afinal, Ayrão está há 10 anos sem lançar músicas inéditas. É muito tempo para quem já vendeu 11 milhões de cópias com 40 discos no mercado. Em alguns deles, há clássicos inegáveis da música popular brasileira, como Porta Aberta, A Saudade Que Ficou (O Lencinho), Bola Dividida, Águia na Cabeça, Os Amantes – de 1977, que vendeu cerca de 2 milhões de cópias – e, claro, Nossa Canção – esta última, sucesso absoluto na voz de seu vizinho de infância, Roberto Carlos. Do compositor, o rei também interpretou Só por Amor, a primeira composição de Ayrão que foi gravada, em 1962.
A sede de retorno é tanta que, recentemente, ele quebrou o jejum com uma música para a Seleção, Chegou a Hora, Brasil! A ideia era igualar o feito de 1982, quando Meu Canarinho se tornou hino da torcida, e competir com hits potenciais, como Agora É Hexa, da dupla Anavitória, e Sou Brasileiro Sou, do Timbalada. “Estava animado com o Brasil, como nunca mais tinha ficado depois de 1982. Mas faltou garra, faltou o Neymar jogando bola”, afirma o carioca. “Mas o importante é saudar o futebol, lembrar do nosso patriotismo. Isso ainda está valendo.”
Apesar do teor festivo da canção, também há crítica: em alguns dos versos, Ayrão alerta para as eleições e o combate à corrupção. Ao conversar sobre o assunto, porém, ele se mostra otimista. “A política vai melhorar, sim. O Brasil tem força”, diz. “Na música também. Tem muita gente que fala mal do cenário musical brasileiro de hoje, mas tem coisa boa. Outro dia ouvi Cheguei, da Ludmilla, e é uma marcha inteligente”, afirma o cantor e compositor, enquanto cantarola versos do funk. Gravando. Dividida,