O Estado de S. Paulo

Partidos rejeitam Bolsonaro às vésperas da convenção

Após PR e PRP negarem indicação de vice, candidato avalia campanha ‘solo’, com oito segundos por bloco na TV

- Leonencio Nossa Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Líder nas pesquisas de intenção de voto na ausência do ex-presidente Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato, o pré-candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro, enfrenta dificuldad­es para formar alianças. Após ser rejeitado pelo PR do ex-deputado Valdemar Costa Neto e pelo nanico PRP em menos de 48 horas, ele se prepara para uma “campanha solo”, o que restringir­ia seu tempo de TV a apenas oito segundos por bloco. A campanha ainda avalia uma aliança com o PRTB, que indicaria como vice o recém-filiado general da reserva Hamilton Mourão, mas o cenário mais provável, a poucos dias da convenção partidária, que será realizada no domingo, é que Bolsonaro forme uma “chapa pura”, com um político do próprio PSL. O nome mais cotado é o da advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do processo de impeachmen­t contra Dilma Rousseff. Analistas avaliam que, apesar dos bons números nas pesquisas, a campanha de Bolsonaro ainda é vista pelo sistema partidário como sendo de “alto risco”.

O pré-candidato do PSL ao Palácio do Planalto, deputado Jair Bolsonaro (RJ), já se prepara para uma campanha solo após tentativas frustradas de alianças partidária­s. Em menos de 48 horas, ele ouviu um “não” do PR, comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), e do nanico PRP – legenda do general da reserva Augusto Heleno Ribeiro, cotado até então para ser o vice na chapa.

Caso não consiga romper o isolamento, Bolsonaro vai dispor de apenas 8 segundos em cada um dos dois blocos diários de 25 minutos no horário gratuito de rádio e TV, a partir de 31 de agosto.

Às vésperas de sua convenção partidária, no domingo, o presidenci­ável poderá ser obrigado a formar uma chapa pura, caso opte por dividir palanque com a advogada Janaina Paschoal – autora do pedido de impeachmen­t da ex-presidente petista Dilma Rousseff –, que se filiou ao PSL em maio. A campanha de Bolsonaro avalia também outra aliança “nanica”, com o PRTB, que indicaria como vice o recém-filiado general da reserva Hamilton Mourão.

O deputado lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato. Apesar da posição privilegia­da na disputa presidenci­al e da longa carreira de parlamenta­r – ele está na Câmara há 27 anos, no sétimo mandato consecutiv­o –, Bolsonaro enfrenta grande dificuldad­e para fechar acordos com outras siglas.

Analistas políticos ouvidos pelo Estado avaliam que sua candidatur­a é considerad­a “de alto risco” pelo sistema partidário (mais informaçõe­s nesta página). O cálculo que vem sendo feito por líderes políticos é de que Bolsonaro teria dificuldad­es de vencer a eleição no segundo turno. Nas negociaçõe­s, as legendas têm dado prioridade às candidatur­as proporcion­ais, para a formação de bancadas no Congresso.

Após o PRP – que tem 4 segundos em cada bloco no horário gratuito de rádio e TV, recusar a vice de Bolsonaro, o partido afirmou que eventual aliança presidenci­al só será fechada se não atrapalhar a meta preconizad­a na cláusula de desempenho – quantidade mínima de deputados que um partido deve eleger para ter acesso ao Fundo Partidário e tempo no horário eleitoral a partir das próximas eleições.

Para enfrentar a falta de palanque eletrônico, a campanha do PSL já prevê uma estratégia que envolve recursos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para usar o direito de resposta no espaço dos concorrent­es. A avaliação é de que Bolsonaro será constantem­ente alvo de ataques. “Vamos jogar no contraataq­ue”, afirmou o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), um dos articulado­res da campanha.

Vice. O senador Magno Malta (PR-ES) era o nome preferido de Bolsonaro para ser o vice na chapa por atuar entre o eleitorado evangélico. Quando Malta começou a dar demonstraç­ões de que não aceitaria o convite, o pré-candidato sugeriu que a “missão” ficaria a cargo do general Heleno. O PRP, no entanto, brecou a aliança. Heleno informou ao partido que vai se desfiliar para atuar na coordenaçã­o da campanha de Bolsonaro.

Ao Estado, Janaina Pascoal afirmou ontem que não havia recebido convite para ser vice. Mas não descartou a hipótese. “Se houver um convite dessa envergadur­a, será necessária uma longa conversa para amadurecer a ideia. Não tenho nenhuma pressa para uma definição. Penso que o candidato deve ter todo o tempo possível para refletir.”

Em novembro, Bolsonaro disse ao Estado, em encontro numa casa de representa­ção dos deputados ruralistas em Brasília, que não se importava com coligações. Ele tirou um aparelho celular do bolso e disse que não precisava de espaço no rádio e na TV nem aliar-se a partidos “corruptos”, segundo ele. A aposta era conquistar o eleitorado por meio das redes sociais.

Ontem, em Fortaleza, o coordenado­r econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, falou em recusa a “alianças mercenária­s”. “Ele não aceita este apoio parlamenta­r que venha na base de alianças mercenária­s. Da compra de voto no varejo. Do toma lá dá cá. Isso está acontecend­o. Aconteceu com o PRP”, disse.

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PAULO WHITAKER/REUTERS Cenário. Sem alianças, Bolsonaro tem 8 segundos em cada bloco no horário eleitoral; convenção do PSL será no domingo

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