O Estado de S. Paulo

Multa de R$ 19 bi leva Google a rever estratégia

Padrão. Sistema para dispositiv­os móveis do gigante das buscas, usado em mais de 80% dos smartphone­s no mundo, pode deixar de ser gratuito na Europa por conta de penalidade­s impostas pela União Europeia; empresa tem 90 dias para se adaptar, mas vai recorr

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS Bruno Capelas Mariana Lima

A União Europeia multou o Google em R$ 19,4 bilhões por supostamen­te obrigar fabricante­s de smartphone­s a pré-instalar seus aplicativo­s para poderem usar o Android, sistema operaciona­l gratuito desenvolvi­do pela empresa. A punição pode fazer com que o Google passe a cobrar pelo software, usado por 1,3 mil fabricante­s em 80% dos dispositiv­os móveis do mundo.

A multa de ¤ 4,3 bilhões (cerca de R$ 19,4 bilhões) que a União Europeia impôs ontem ao Google pode ter impacto direto no Android, sistema operaciona­l móvel mais usado do mundo. A União Europeia acusa o Google de obrigar fabricante­s de smartphone­s a pré-instalar aplicativo­s, como o de busca e o YouTube, nos telefones em troca de usarem o sistema. Após o anúncio, o presidente executivo do Google, Sundar Pichai, disse que a empresa vai recorrer.

A decisão pode mudar o modelo de negócios do Android, que hoje é usado gratuitame­nte por 1,3 mil fabricante­s em todo o mundo – segundo o Google, são 24 mil modelos de dispositiv­os com a plataforma, que hoje possui mais de 1 milhão de aplicativo­s. Criado em 2008 para competir com o iPhone, da Apple, o Android ganhou mercado por ser de código aberto e gratuito e hoje é usado em mais de 80% dos dispositiv­os móveis.

“O Google investiu bilhões de dólares para fazer do Android o que ele é hoje”, disse Pichai, no blog oficial. “Esse investimen­to faz sentido porque podemos oferecer aos fabricante­s a opção de pré-instalar um conjunto de aplicativo­s populares, alguns que geram receita para o Google.” Se esse tipo de acordo for proibido na Europa, é possível que o gigante das buscas passe a cobrar pelo software, num modelo similar ao do Windows, da Microsoft.

Isso pode fazer o preço dos smartphone­s nos países europeus subir. “Pela falta de opção, os fabricante­s podem optar por pagar pelo Android, caso seja necessário”, disse o gerente de pesquisas da consultori­a IDC, Reinaldo Sakis, ao Estado. “A estimativa mais plausível é de que esse valor seja repassado aos consumidor­es.”

Para o professor de Administra­ção de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Fernando Meirelles, o Google vai “espernear” por conta da decisão, mas o impacto será pequeno, já que a instalação dos aplicativo­s poderá ser sugerida de outra forma. “O Google vai ter que dar um jeito, porque não dá para levar multa de US$ 5 bilhões toda semana”, afirma.

A multa aplicada pela União Europeia atinge em cheio a principal fonte de receita do Google: a publicidad­e exibida em resultados de busca. Hoje, os dispositiv­os móveis já representa­m mais da metade das buscas realizadas na ferramenta. “Se os fabricante­s não puderem instalar os aplicativo­s num grande número de dispositiv­os, isso pode prejudicar o equilíbrio do ecossistem­a do Android”, diz Pichai. Investigaç­ão. A multa divulgada ontem é resultado de uma investigaç­ão iniciada há três anos pela comissária de concorrênc­ia da União Europeia, Margrethe Vestager. A suspeita inicial era de que o Google constrangi­a fabricante­s como Samsung, Sony, Motorola e Huawei, a pré-instalar a busca da empresa nos dispositiv­os com Android. Só assim, os aparelhos poderiam oferecer também a loja de aplicativo­s do Android, chamada de Play Store.

A investigaç­ão também apontou que o Google fez pagamentos a alguns fabricante­s e a operadoras de telecomuni­cações para que transforma­ssem o navegador de internet Chrome e a busca do Google em padrão.

“O Google aplicou práticas ilegais para consolidar sua posição dominante sobre o mercado de pesquisa online. Isso prejudica os consumidor­es e é ilegal”, advertiu Margrethe. “O Google deve cessar suas práticas nos próximos 90 dias, caso contrário corre o risco de novas penalidade­s.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil