Cotidiano de confrontos
Filme Intervenção fala do fracasso da política de segurança no Rio.
O major Douglas, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), se prepara para falar com a imprensa. A cara fechada, de poucos amigos, disfarça a adrenalina que ainda corre por seu corpo, após uma operação na comunidade do Morro da Laje, na zonal sul do Rio. A ação terminou em tiroteio, deixando um policial ferido e uma criminosa morta.
Douglas explica que seus homens foram recebidos a tiros pela mulher e forçados a revidar, tanto assim que um de seus homens foi atingido por um disparo e levado para o hospital em estado grave. Os repórteres insistem em saber detalhes sobre a mulher e não parecem interessados na sorte do militar. Douglas perde a paciência: “Vocês têm noção do que a PM passa aqui o dia inteiro? Por que vocês não me perguntam sobre o policial ferido? Vocês só querem saber de nos acusar, não veem o nosso lado? Vocês não sabem de porra nenhuma”.
A cena bem poderia ser real, daquelas que acontecem todos os dias no Rio, uma cidade cada vez mais violenta, sob intervenção federal na segurança pública. Uma cidade falida, onde o inicialmente aclamado programa das UPPs foi completamente desmantelado, deixando PMs e moradores de favelas completamente reféns de bandidos. Onde PMs são executados rotineiramente e matam com frequência, simulando tiroteios.
Na verdade, no entanto, a cena foi filmada na tarde de terça, na favela de Tavares Bastos, zona sul. Faz parte do longa Intervenção, do diretor Caio Cobra, com roteiro do ex-policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Rodrigo Pimentel e do jornalista Gustavo de Almeida, exassessor da PM. O major Douglas é Marcos Palmeira, com a cabeça raspada e uma farda da polícia. “Ih, perdi a linha com a imprensa”, constatou o ator, rindo.
O filme, que estreia em 15 de novembro, vem sendo aguardado como o grande lançamento do gênero deste ano, no rastro de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, e Tropa de Elite 1 e 2, de José Padilha. Só que retrata um outro momento da violência, mais atual. Entre policiais idealistas e PMs assassinos, defensores de direitos humanos, moradores de comunidade e traficantes, o filme tenta abordar todos os lados dessa complexa questão de forma imparcial. “Acho que o filme gera uma discussão, uma reflexão, não ódio e polarização”, diz a atriz Bianca Comparato, que vive a soldado Larissa.
Mais informações sobre o filme ‘Intervenção’ na pág. C6