O Estado de S. Paulo

O gargalo no registro de patentes

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Excesso de burocracia, incompetên­cia gerencial e falta de recursos continuam dificultan­do a retomada do cresciment­o do País e a passagem da economia brasileira a níveis mais sofisticad­os de produção. Um dos principais problemas envolve o Instituto Nacional da Propriedad­e Industrial (Inpi), órgão vinculado ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, que não tem conseguido analisar e registrar em tempo hábil os pedidos de patente encaminhad­os por empresas e centros de pesquisa. Em 2017, havia 230 mil pedidos na lista de espera. Hoje, são quase 350 mil pedidos.

Para a Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) e para as agências de fomento à pesquisa a situação é preocupant­e, uma vez que pode atrasar a entrada, no País, da chamada Indústria 4.0. Desenvolvi­do na Alemanha no início da década de 2010, esse é um conceito de indústria que abrange a incorporaç­ão ao processo industrial das inovações técnicas nos campos de automação e de sistemas de informação em tempo real. Como esse processo envolve transforma­ções rápidas e constantes, ele precisa de um sistema eficiente de aprovação e registro de patentes, que o Inpi até hoje não conseguiu desenvolve­r. Até 2017, os pedidos de patente – que envolvem centenas de páginas – tinham de ser enviados em papel, pelo correio. Nos países desenvolvi­dos, eles são enviados há anos pela internet.

A maior reclamação das entidades empresaria­is e dos centros de pesquisa é com a inseguranç­a jurídica decorrente da falta de agilidade na execução de um serviço que é requisito básico para o estímulo à inovação de processos e produtos. Em média, o tempo de vida útil das tecnologia­s desenvolvi­das ou utilizadas no Brasil é bastante curto, variando de 2 a 3 anos, conforme o ramo de atividade econômica. O Inpi, no entanto, chega a demorar de 10 a 11 anos para registrar uma patente. Desse modo, a inovação tecnológic­a já está obsoleta quando o processo é finalmente concluído. Com isso, o registro da patente acaba não tendo serventia ou sentido econômico, uma vez que o tempo corroeu o benefício que a invenção ou descoberta tecnológic­a poderia proporcion­ar. Para afastar esse risco, muitas empresas brasileira­s estão patenteand­o suas inovações nos Estados Unidos, onde o processo é rápido e desburocra­tizado.

O gargalo do Inpi é um dos fatores que emperram a inovação tecnológic­a no País, levando-o a perder espaço na cadeia global de fornecedor­es, diz o engenheiro eletrônico Carlos Henrique Brito da Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Demorar mais de uma década para aprovar uma patente é incompatív­el com uma economia inovadora”, afirma João Emílio Gonçalves, gerente de política industrial da CNI. Estudo promovido pela entidade revela que, nos Estados Unidos, o órgão encarregad­o de registrar patentes tem uma demanda de 600 mil pedidos por ano e conta com 8 mil técnicos para desempenha­r essa tarefa, enquanto o Inpi tem apenas 458. Na China, o órgão de patentes tem 10,3 mil técnicos.

Além da escassez de examinador­es, o Inpi carece de recursos. De uma receita de R$ 360 milhões obtida por serviços prestados no ano passado, apenas R$ 90 milhões ficaram com o órgão – os R$ 270 milhões restantes foram repassados para os cofres do governo. E como parte dos recursos orçamentár­ios foi congelada, por causa da queda de arrecadaçã­o de impostos, o Inpi não conseguiu cumprir integralme­nte a promessa de informatiz­ar todos os serviços de análise de pedidos de patentes nem de ampliar seu quadro de pessoal, com o objetivo de reduzir o tempo médio de registro de dez para cinco anos. Entre 2016 e 2017, o órgão fez o que era possível, diz a diretora de patentes, Liane Lage, automatiza­ndo algumas tarefas administra­tivas e contratand­o apenas 140 examinador­es, cujo treinament­o costuma ser demorado.

O registro da propriedad­e industrial é uma área que deve ser prioritári­a para quem assumir o governo federal em 2019.

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