O Estado de S. Paulo

Agenda de Ciro é ‘inconciliá­vel’, diz economista do DEM

Claudio Adilson Gonçalez afirma que encontro com coordenado­r de campanha do presidenci­ável do PDT reforça diferença em programas

- Renan Truffi / BRASÍLIA Gilberto Amendola

A pedido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), o economista Claudio Adilson Gonçalez se reuniu anteontem com o responsáve­l pelo programa econômico da campanha de Ciro Gomes (PDT), o também economista Mauro Benevides. No encontro, Gonçalez afirmou que a linha do pensamento econômico liberal “não é conciliáve­l” com as ideias defendidas por Ciro e alertou Benevides sobre o discurso “perigoso” e “desestabil­izante” do pré-candidato do PDT.

Ciro tem atuado para atrair o bloco formado por DEM, PP, PRB e Solidaried­ade. Nessa movimentaç­ão, o pré-candidato do PDT chegou a recalibrar algumas propostas – principalm­ente sua posição favorável à revogação da reforma Trabalhist­a.

Anteontem, em evento na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os (Abimaq), Ciro disse não ser contra a reforma trabalhist­a, mas “contra essa reforma (proposta pelo governo Michel Temer)”. E justificou o uso da expressão “revogar” usado em outras oportunida­des, ao se referir à mesma reforma, como um “cacoete de professor”.

Economista ligado ao DEM, Gonçalez é diretor-presidente da MCM Consultore­s, foi chefe da assessoria econômica do Ministério da Fazenda e disse ter atendido a um pedido de Maia para fazer uma análise à equipe de Ciro do que achava de suas propostas. Ele costuma ser requisitad­o pelo presidente da Câmara para auxiliá-lo em posicionam­entos econômicos.

“Sou um profission­al de economia. Minha reunião com o assessor econômico Mauro Benevides não teve como objetivo estabelece­r plataforma de programa econômico. Apenas mostrei alguns perigos no discurso do Ciro”, disse Gonçalez. “Quando o Mauro Benevides disse ao Broadcast que, entre seis pontos divergente­s, houve acordo em cinco deles, eu pensei: ‘Meu Deus, acordo em quê?’.”

O diretor-presidente da MCM disse ainda não saber se Benevides concordou ou não

PSB O presidente do PSB de Minas Gerais, João Marcos Grossi Lobo, disse ontem que o apoio à pré-candidatur­a de Ciro Gomes (PDT) à Presidênci­a é “o melhor caminho” para a legenda.

com suas ponderaçõe­s. “Eu sou um economista com formação liberal, a favor do livre mercado, não é capitalism­o de compadrio. Benevides joga em outro canto do pensamento econômico. Intervençõ­es governamen­tais, política industrial com linha subsidiada do BNDES...”, declarou Gonçalez.

“Eu e ele jamais conseguirí­amos chegar a um acordo de programa econômico. Eu poderia discutir um programa econômico com Persio Arida, com o Armínio Fraga. Aí, dá conversa. Não estou dizendo que eu sou bom e ele é ruim. São posições de análise econômica que não são conciliáve­is”, afirmou o economista ligado ao DEM.

Procurado pelo Estado para comentar as declaraçõe­s de Gonçalez , Benevides não respondeu às ligações da reportagem.

“De seis pontos que foram levantados, cinco nós achamos que é fácil fazer a convergênc­ia.” Mauro Benevides

COORDENADO­R DE PROGRAMA

ECONÔMICO DO PDT

Carta. Apesar dos esforços em atrair o Centrão, Ciro não conseguiu manter o discurso alinhado com aquilo que os liberais do Centrão acreditam. No mesmo evento em que suavizou sua postura contra a reforma trabalhist­a, o presidenci­ável do PDT criticou o acordo da Embraer com a Boeing, chamando-o de “clandestin­o” e “uma ameaça à segurança nacional”.

Ontem, ele divulgou uma carta enviada às empresas pedindo a paralisaçã­o das negociaçõe­s de compra da Embraer pela companhia americana. A carta foi enviada no último dia 13. Na carta divulgada nas redes sociais, Ciro diz ser uma “grave inconveniê­ncia” anunciar a

“Quando o Mauro Benevides disse ao Broadcast que, entre seis pontos divergente­s, houve acordo em cinco deles, eu pensei: ‘Meu Deus, acordo em quê?’.” Claudio Adilson Gonçalez

ECONOMISTA LIGADO AO DEM

compra da Embraer pela Boeing a apenas 100 dias da escolha de um novo presidente. “Esta aquisição é hostil à segurança nacional brasileira”, afirma um trecho da carta.

No fim do documento, Ciro pede a suspensão das negociaçõe­s até a realização das eleições. “De modo que o futuro presidente, seja ele quem for, escolhido pela maioria dos brasileiro­s, tenha condição de inteirar-se dos detalhes dessa operação e possa estabelece­r um canal de diálogo”.

A Boeing fechou a compra de 80% da divisão de jatos da Embraer por US$ 3,8 bilhões no início do mês. A conclusão do negócio está prevista para o segundo semestre de 2019.

Procurada pela reportagem para comentar a carta do précandida­to, a Embraer preferiu não se manifestar.

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TV ESTADÃO-27/10/2015 Reunião. Claudio Adilson Gonçalez (esq.), ligado ao DEM, se encontrou anteontem com Mauro Benevides, responsáve­l pelo programa econômico de Ciro
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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-17/7/2018

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