O Estado de S. Paulo

Justiça homologa primeiro acordo entre Odebrecht e Promotoria

Empreiteir­a será excluída do polo passivo de ação por improbidad­e contra o ex-prefeito e atual ministro Gilberto Kassab

- / FABIO LEITE, FAUSTO MACEDO e JULIA AFFONSO

A Justiça de São Paulo homologou o primeiro acordo de colaboraçã­o firmado pela Odebrecht com promotores paulistas envolvendo crimes em São Paulo revelados na Operação Lava Jato. O juiz José Gomes Jardim Neto, da 9.ª Vara da Fazenda Pública, aceitou o termo de autocompos­ição no qual a empreiteir­a se compromete a devolver R$ 21,2 milhões que diz ter pago de caixa 2 ao ex-prefeito e hoje ministro das Comunicaçõ­es, Gilberto Kassab (PSD), entre 2008 e 2014. O político nega.

Com o acordo, a Odebrecht deixa o polo passivo de uma ação por improbidad­e administra­tiva e enriquecim­ento ilícito na qual o Ministério Público paulista pede que Kassab devolva R$ 85 milhões aos cofres públicos. Segundo o termo, a empreiteir­a poderá pagar o valor que teria sido dado ao ex-prefeito sem correção e multa em 22 anos ou ter essa quantia descontada de futuras obras públicas com a Prefeitura da capital.

Em contrapart­ida, a Odebrecht reconhece que cometeu crimes e se dispõe a oferecer depoimento­s e documentos que possam comprovar os pagamentos ilícitos a Kassab. Segundo o juiz, o acordo “atende ao interesse público”. “É possível e recomendáv­el que a Odebrecht assuma os ilícitos apurados, colaborand­o com o Poder Judiciário”, afirmou Jardim Neto.

Além do caso de Kassab, promotores do Patrimônio Público já assinaram outros quatro acordos com a Odebrecht que preveem a devolução de mais R$ 21,4 milhões. Três ainda aguardam homologaçã­o da Justiça. O quarto, um Termo de Ajustament­o de Conduta (TAC) que permite à empreiteir­a retomar um contrato de R$ 503 milhões com a Prefeitura que a empresa admitiu ter vencido mediante formação de cartel e pagamento de propina, precisa ser homologado pelo Conselho Superior do MP paulista.

Para o promotor Silvio Marques, a homologaçã­o do acordo “garante segurança jurídica a todos”. “O termo foi assinado pelo Ministério Público e pela Prefeitura, que eram os dois únicos órgãos legitimado­s para propor a ação civil de improbidad­e administra­tiva. Garantimos provas no processo e a recuperaçã­o de dinheiro público”, disse.

Em nota, Kassab afirmou que está “à disposição para prestar quaisquer esclarecim­entos e que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público”.

“A homologaçã­o da autocompos­ição garante segurança jurídica a todos. Além disso, garantimos provas no processo e a recuperaçã­o de dinheiro público”. Silvio Marques

PROMOTOR

Camargo Corrêa. Em fevereiro, a Justiça já havia homologado um acordo no qual a construtor­a Camargo Corrêa aceitou devolver cerca de R$ 48 milhões pela formação de cartel nas obras da Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo.

Com o termo, assinado com o promotor Marcelo Milani, ela se livrou de uma condenação por improbidad­e que cobra cerca de R$ 800 milhões de 13 empresas, entre as quais a Odebrecht.

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