PF prende 2 e impede nova leva de ilegais de chegar aos EUA
Organização criminosa fazia a travessia para o território americano de 150 adultos brasileiros e 30 crianças por ano
A descoberta de um plano de travessia ilegal de brasileiros para os EUA levou a Polícia Federal a deflagrar ontem a terceira fase da Operação Piratas do Caribe. A ação prendeu um dos líderes do grupo de “coiotes” que levava imigrantes por meio da prática conhecida como “cai-cai”.
Segundo a PF, o “coiote” promove a entrada de “adultos ilegalmente acompanhados de crianças ou adolescentes para que eles não sejam imediatamente deportados”. Nos últimos meses, em razão da política de tolerância zero do presidente Donald Trump, essas crianças eram separadas de seus pais e mantidas em abrigos do governo.
A operação cumpriu dois mandados de prisão e três de buscas e apreensão no Brasil e no exterior. Uma das prisões foi realizada em Rondônia e teve como alvo um dos líderes da organização criminosa – a identidade do preso é mantida em sigilo pela PF. O Estado apurou que o detido confessou atuar na promoção da imigração ilegal para os EUA por meio da rota marítima de Bahamas e via terrestre na fronteira com o México. O grupo liderado por ele atuava com a ajuda de uma rede de “coiotes” brasileiros responsáveis pela cooptação de pessoas interessadas em imigrar.
Lucro. Os preços cobrados variavam entre R$ 40 mil e R$ 100 mil. Em muitos casos, as famílias pagavam o serviço com a entrega de imóveis e outros bens. De acordo com a PF, o grupo enviava anualmente cerca de 150 adultos e 30 crianças aos EUA.
As mesmas pessoas também são investigados pelo desaparecimento de 12 brasileiros, em novembro de 2016, que tentavam a travessia de barco entre Bahamas e EUA. No curso da Piratas do Caribe, a PF constatou que muitos brasileiros transportados pelo grupo morreram ao tentar a travessia. Há a suspeita de assassinatos entre as mortes.
Após a primeira fase da operação, em janeiro de 2017, o governo americano iniciou uma cooperação com autoridades brasileiras que resultou na prisão de duas pessoas nos EUA. Os dois brasileiros detidos atuaram na lavagem de cerca de R$ 25 milhões do líder dos coiotes preso ontem.
O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, afirmou ontem que “acompanha de perto” os casos das crianças separadas dos pais e estão detidas nos EUA. “Trata-se de uma prática cruel e em clara dissonância com instrumentos internacionais de proteção aos direitos da criança”, diz o Itamaraty.
Separação. Segundo o governo brasileiro, o último levantamento contabilizou que estão sob custódia nos EUA 40 menores brasileiros, nenhum deles com menos de 5 anos de idade.
Ainda de acordo com o Itamaraty, os consulados do Brasil nos EUA reforçaram recentemente o mapeamento de abrigos para identificação de novos casos e intensificou o monitoramento e a assistência aos menores por meio de visitas regulares. / COM TÂNIA MONTEIRO