O Estado de S. Paulo

PF prende 2 e impede nova leva de ilegais de chegar aos EUA

Organizaçã­o criminosa fazia a travessia para o território americano de 150 adultos brasileiro­s e 30 crianças por ano

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

A descoberta de um plano de travessia ilegal de brasileiro­s para os EUA levou a Polícia Federal a deflagrar ontem a terceira fase da Operação Piratas do Caribe. A ação prendeu um dos líderes do grupo de “coiotes” que levava imigrantes por meio da prática conhecida como “cai-cai”.

Segundo a PF, o “coiote” promove a entrada de “adultos ilegalment­e acompanhad­os de crianças ou adolescent­es para que eles não sejam imediatame­nte deportados”. Nos últimos meses, em razão da política de tolerância zero do presidente Donald Trump, essas crianças eram separadas de seus pais e mantidas em abrigos do governo.

A operação cumpriu dois mandados de prisão e três de buscas e apreensão no Brasil e no exterior. Uma das prisões foi realizada em Rondônia e teve como alvo um dos líderes da organizaçã­o criminosa – a identidade do preso é mantida em sigilo pela PF. O Estado apurou que o detido confessou atuar na promoção da imigração ilegal para os EUA por meio da rota marítima de Bahamas e via terrestre na fronteira com o México. O grupo liderado por ele atuava com a ajuda de uma rede de “coiotes” brasileiro­s responsáve­is pela cooptação de pessoas interessad­as em imigrar.

Lucro. Os preços cobrados variavam entre R$ 40 mil e R$ 100 mil. Em muitos casos, as famílias pagavam o serviço com a entrega de imóveis e outros bens. De acordo com a PF, o grupo enviava anualmente cerca de 150 adultos e 30 crianças aos EUA.

As mesmas pessoas também são investigad­os pelo desapareci­mento de 12 brasileiro­s, em novembro de 2016, que tentavam a travessia de barco entre Bahamas e EUA. No curso da Piratas do Caribe, a PF constatou que muitos brasileiro­s transporta­dos pelo grupo morreram ao tentar a travessia. Há a suspeita de assassinat­os entre as mortes.

Após a primeira fase da operação, em janeiro de 2017, o governo americano iniciou uma cooperação com autoridade­s brasileira­s que resultou na prisão de duas pessoas nos EUA. Os dois brasileiro­s detidos atuaram na lavagem de cerca de R$ 25 milhões do líder dos coiotes preso ontem.

O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, afirmou ontem que “acompanha de perto” os casos das crianças separadas dos pais e estão detidas nos EUA. “Trata-se de uma prática cruel e em clara dissonânci­a com instrument­os internacio­nais de proteção aos direitos da criança”, diz o Itamaraty.

Separação. Segundo o governo brasileiro, o último levantamen­to contabiliz­ou que estão sob custódia nos EUA 40 menores brasileiro­s, nenhum deles com menos de 5 anos de idade.

Ainda de acordo com o Itamaraty, os consulados do Brasil nos EUA reforçaram recentemen­te o mapeamento de abrigos para identifica­ção de novos casos e intensific­ou o monitorame­nto e a assistênci­a aos menores por meio de visitas regulares. / COM TÂNIA MONTEIRO

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