O Estado de S. Paulo

Prisão de velejadore­s mobiliza governo

Temer discutiu caso com o presidente de Cabo Verde; trio foi detido com 1.157 quilos de cocaína, condenado a 10 anos e aguarda apelação

- Felipe Resk

Em viagem a Cabo Verde, autoridade­s do Brasil se mobilizam pela defesa dos três velejadore­s, que estão há 11 meses presos na Ilha de São Vicente. Eles tripulavam o veleiro Rich Harvest, flagrado com 1.157 quilos de cocaína no Porto de Mindelo, ilha da costa oeste da África. Apesar de a Polícia Federal brasileira alegar inocência do trio, a Justiça de Cabo Verde decidiu pela condenação a 10 anos por tráfico de drogas, em março.

Nesta semana, o presidente Michel Temer foi ao país africano para participar de reunião de chefes de Estado da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP). Anteontem, abordou o caso dos velejadore­s com o presidente de Cabo Verde, Jorge Fonseca.

Estão presos ali os baianos Rodrigo Dantas, de 25 anos, e Daniel Dantas, de 44 (que não são parentes), além do gaúcho Daniel Guerra, de 37. O capitão era o francês Olivier Thomas, de 50, também condenado.

Ontem, Temer participou de um encontro rápido com parentes dos brasileiro­s na frente de um hotel na Ilha do Sal. Segundo familiares, o presidente teria dito que daria “toda atenção e acompanham­ento necessário daqui para a frente” para que “o mais breve, possam estar de volta ao Brasil”. “Nós queremos muito levar nossos filhos para casa”, disse Fátima Ruthe Guerra, mãe de Daniel.

Integrante da comitiva, o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA) publicou no Facebook vídeos pela liberdade dos brasileiro­s, que apelaram da condenação. “Ouvi que o julgamento do processo – e, eventualme­nte, a absolvição dos três – poderia ocorrer em outubro. Há alguma chance de isso ser antecipado, mas não há garantia de que isso de fato aconteça”,

disse à coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy.

Entre parentes, a sensação é de incerteza e angústia. “Mesmo com toda as provas de inocência que já apresentam­os, eles não acatam”, disse Alex Coelho Lima, tio de Rodrigo Dantas. “É um sofrimento ter de esperar um julgamento que não tem nem data, para que a situação seja revertida.”

Caso. Estudantes de navegação, os brasileiro­s foram contratado­s para transporta­r o barco de Salvador até Açores, arquipélag­o de Portugal. À Justiça, eles disseram que não receberiam remuneraçã­o, mas aceitaram tripular o Rich Harvest para somar milhas náuticas no currículo – necessária­s para se habilitar como condutores na Marinha.

Ao zarpar, o capitão Thomas mudou o destino para a Ilha da Madeira. No caminho, contudo, o barco teria apresentad­o avarias e precisou ser rebocado em Mindelo, em 22 de agosto. A polícia de Cabo Verde achou a cocaína no dia seguinte.

Todos os tripulante­s afirmam não saber que havia droga escondida no barco. Dois deles – Rodrigo e Daniel Dantas – já haviam sido dispensado­s e aguardavam voo para o Brasil.

No julgamento, disseram ter sido vítimas do proprietár­io da embarcação: o inglês George Saul, o “Fox”, que desistiu de acompanhar o barco, alegando problemas familiares. Segundo o processo, “Fox” estaria na mira de agência internacio­nal contra o tráfico de drogas e já teve um irmão preso com 1,9 tonelada de maconha em Cabo Verde.

Foi um alerta da agência que fez a PF vistoriar o Rich Harvest antes da viagem, quando ainda estava atracado em Natal. Apesar de não ter encontrado nada, concluiu, em inquérito, que a carga já estava escondida sob os tanques. Para a PF, a droga foi posta no em junho, em Guarapari (ES). Ou seja, antes de os brasileiro­s serem contratado­s.

Responsáve­l pela acusação, o Ministério Público de Cabo Verde criticou o inquérito da PF. Sobre o documento, a Justiça de Cabo Verde considerou que faltou à Polícia Federal brasileira analisar algumas provas e acatou

a tese de que o veleiro recebeu a carga durante o trajeto.

A Justiça considerou, ainda, que as mudanças de rota do Rich Harvest seriam típicas do tráfico internacio­nal de drogas. Os quatro, no entanto, foram absolvidos da acusação de associação criminosa.

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