O Estado de S. Paulo

Ministro do TCU propõe que União abra mão de ‘golden share’

Voto diz que, em caso de privatizaç­ão, governo poderia se desfazer de ações especiais, com poder de veto

- Breno Pires / BRASÍLIA

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio propôs ontem que o governo possa abrir mão das ações especiais que detém em empresas que foram privatizad­as e dão poder de veto em decisões importante­s, as golden shares. Seria necessário cumprir três condições: que seja fundamenta­do pelo governo que a razão para a criação das ações especiais já não existe, que haja ressarcime­nto aos cofres públicos e aprovação pelo Conselho do Programa de Parcerias de Investimen­to.

Múcio é relator no TCU de um processo que analisa consulta feita pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles para questionar se o governo pode se desfazer de golden shares sem contrapart­ida financeira. O exministro considerav­a essas ações um entrave a investimen­tos. O governo tem golden shares na Vale, IRB-Brasil Resseguros e Embraer, que recentemen­te anunciou acordo com a Boeing para a venda de sua divisão de aviação comercial.

A análise do processo pelo plenário estava prevista para ontem, mas foi adiada após pedido de vistas do ministro Vital do Rego. O ministro Marcos Bemquerer seguiu o voto de Múcio.

O relator apontou que é preciso definir “por norma específica” a forma como deve ser calculado o ressarcime­nto. O voto, no entanto, não afirmou quem tem de criar essa norma.

A justificat­iva para o ressarcime­nto, segundo Múcio, é que, embora não se trate de uma venda, há um valor por trás do desfazimen­to das golden shares, porque o governo abre mão de um direito. Outro motivo passa pelo argumento apresentad­o pela Fazenda de que as ações especiais desvaloriz­am as empresas. A lógica, na visão de auditores, é que a perspectiv­a de valorizaçã­o justifica um pagamento à União.

A unidade técnica afirmou em sua manifestaç­ão que, como não há previsão na lei para a venda de golden shares, o governo não pode se desfazer delas. O Ministério Público de Contas concluiu que não há restrição legal e não apontou necessidad­e de pagamento pelas ações. O relator optou por uma proposta intermediá­ria.

Na breve discussão, dois ministros falaram sobre a Embraer. Múcio disse que não está claro para o tribunal se a golden share que o governo detém na Embraer está ligada à parte comercial ou à parte militar da empresa.

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