O Estado de S. Paulo

Tabela de frete vai afetar inflação do ano, diz Ipea

Setor de alimentos, um dos mais prejudicad­os pela greve dos caminhonei­ros, deve sofrer maior impacto; previsão é que IPCA encerre 2018 em 4,20%

- Daniela Amorim / RIO

O tabelament­o do frete, principal medida negociada pelo governo para encerrar a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, que se prolongou por 11 dias no fim de maio, pode aumentar a pressão sobre a inflação ao consumidor este ano. O impacto será especialme­nte sentido no setor alimentíci­o. A avaliação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgou ontem nova edição da Carta de Conjuntura.

Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), subiu 1,26%, a maior taxa para o mês desde 1995. Os preços do grupo alimentaçã­o e bebidas aumentaram 2,03%, o que resultou numa contribuiç­ão de 0,50 ponto porcentual para a inflação do mês.

O Ipea calcula que os alimentos vão encerrar o ano 3,93% mais caros, o equivalent­e a uma contribuiç­ão de 0,62 ponto porcentual para o IPCA de 2018, estimado pelo instituto em 4,20%.

É possível que essa previsão seja revista para cima, dependendo do impacto que o tabelament­o do frete terá sobre os custos dos produtores. O encarecime­nto do transporte pode causar uma pressão maior sobre os preços dos alimentos e, consequent­emente, sobre a inflação do ano, avaliou José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconô­micas do Ipea. “Mas ainda não é possível prever a dimensão desse efeito”, disse.

A medida provisória que permite o estabeleci­mento de preços mínimos para os fretes rodoviário­s foi aprovada por deputados e senadores no dia 11. Os valores serão divulgados com base em regulament­ação da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT), levando em consideraç­ão gastos com óleo diesel e pedágios.

Desabastec­imento. Segundo o Ipea, o repique inflacioná­rio de junho teve influência de três efeitos da greve sobre os preços dos alimentos no País: o entrave logístico durante a paralisaçã­o; a falta de estoques do varejo e de matérias-primas na indústria; e o aumento nos custos do transporte derivado do tabelament­o dos fretes.

“Para julho, a expectativ­a é de que as pressões sobre os preços derivadas dos dois primeiros elementos se diluam, restando os efeitos decorrente­s do tabelament­o de fretes. O início da nova safra agrícola, com a consequent­e necessidad­e de insumos, adubos e fertilizan­tes nas regiões produtoras, tende a intensific­ar esse repasse de preços no curto e médio prazos, à medida que a atual safra seja escoada pagando fretes mais altos; e, no longo prazo, via menor oferta de alimentos, caso a safra 2018/2019 continue com seu plantio comprometi­do”, ressaltou o estudo do Ipea.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-23/5/2018 Efeito. Alta de custos por conta da greve continua este mês

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