O Estado de S. Paulo

Trump planeja receber Putin

Aposta dobrada. Casa Branca rejeita proposta russa para interrogar cidadãos americanos, incluindo seu ex-embaixador em Moscou, em troca de permitir acesso dos EUA a 12 agentes que teriam tentado sabotar as eleições de 2016 e foram indiciados

- WASHINGTON NYT, AFP e AP /

Em nova decisão polêmica, o presidente americano quer uma nova reunião de cúpula com o russo, desta vez em Washington, até o final do ano.

O presidente Donald Trump convidou o líder russo Vladimir Putin para uma nova cúpula, dessa vez em Washington, até o fim do ano. Um encontro na Casa Branca convém à busca do chefe de Estado russo por legitimida­de. Putin tem sofrido isolamento Ocidental por suas estratégia­s para a Ucrânia, com a anexação da Crimeia, e a Síria, onde apoia o ditador Bashar Assad.

O convite foi confirmado ontem pela Casa Branca, enquanto funcionári­os de alto escalão ainda buscavam detalhes do que os dois líderes discutiram nas duas horas e meia em que ficaram apenas com tradutores, na última reunião entre eles, em Helsinque, na Finlândia, na segunda-feira.

O diretor de Inteligênc­ia Nacional do governo Trump, Dan Coats, palestrava ontem em uma conferênci­a sobre segurança e admitia sua frustração por não saber o conteúdo da reunião, quando foi novamente surpreendi­do pelo convite a Putin. “Repita, por favor”, disse ele quando uma apresentad­ora da NBC lhe deu ao vivo a notícia. Coat em seguida disse “ok”, respirou fundo e completou: “Isso será especial”.

Os deputados republican­os da Comissão de Inteligênc­ia da Câmara bloquearam ontem uma medida para intimar a tradutora americana Marina Gross, que trabalhou na cúpula de Helsinque. O principal democrata da comissão, o deputado Adam Schiff, disse querer que a tradutora, uma funcionári­a do Departamen­to de Estado, compareça a uma sessão fechada, argumentan­do que o Congresso “deve descobrir o que foi dito” durante a reunião de duas horas entre os presidente­s. Democratas no Senado também pressionam por uma audiência com ela.

Troca. A Casa Branca rejeitou a proposta de Putin para questionar cidadãos americanos, incluindo o ex-embaixador dos EUA em Moscou Michael McFaul (durante o governo Obama), em troca de permitir o acesso dos EUA a 12 agentes da inteligênc­ia militar acusados pelo procurador especial Robert Mueller de ter participad­o de uma tentativa de sabotagem das eleições de 2016.

O secretário de Estado, Mike Pompeo, posicionou-se de maneira incisiva contra a oferta. “O governo não vai enviar, forçar americanos a viajar para Rússia para serem interrogad­os por Putin”, disse em entrevista que irá ao ar na íntegra hoje. Diplomatas e ex-funcionári­os do governo acreditam que a proposta russa teria motivação política.

O objetivo seria capturar o empresário americano William Browder, naturaliza­do britânico, crítico de Putin. Browder foi um dos principais defensores de uma lei que estabelece­u uma lista de russos sancionado­s por ter cometido abuso a direitos humanos.

A postura de Trump diante de Putin foi criticada pela maior parte da imprensa americana – nem mesmo a Fox News, tradiciona­l aliada do presidente, o defendeu. A revista Time trouxe ontem na capa uma fusão do rosto dos dois líderes. A reportagem principal tem o título “Trump queria uma reunião com Putin. Ele conseguiu muito mais do que negociou” e começa com uma pergunta: “Em quem você acredita?”. Ao responder a esta mesma questão na segunda-feira, Trump indicou acreditar mais em Putin que nos serviços de inteligênc­ia americanos ao abordar a interferên­cia russa na eleição de 2016.

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