Ou Trump é agente da espionagem russa ou gosta de se passar por um.
Desde o início de seu governo, o presidente Donald Trump tem respondido, a cada nova evidência apresentada por CIA, FBI e NSA de que a Rússia interferiu na última eleição, com acusações a Barack Obama ou aos democratas de terem relaxado muito – nunca culpando o presidente Vladimir Putin ou a Rússia por seu ataque cibernético contra o processo democrático americano. Tal comportamento por parte de um presidente americano é tão impróprio, tão contrário aos interesses e valores americanos, que leva a uma conclusão: ou Trump é um agente da espionagem russa ou realmente gosta de passar por um quando aparece na TV.
Existem provas esmagadoras de que o presidente, pela primeira vez na história do país, está, deliberadamente ou por culpa de sua personalidade distorcida, comportando-se como um traidor – comportamento que fere seu juramento feito ao assumir o cargo de “preservar, proteger e defender a Constituição dos EUA”.
Trump quebrou esse juramento na segunda-feira, em Helsinque, e os republicanos não podem mais fugir desse fato. Todo parlamentar republicano que disputar uma eleição vai ser – e deve ser – questionado: você está com Trump e Putin ou está com a CIA, o FBI e a NSA?
Tudo começou com o tuíte divulgado por Trump antes de se sentar com Putin: “Nossas relações com a Rússia nunca estiveram tão ruins, graças a muitos anos de loucura e estupidez dos EUA e, agora, a uma manipulada caça às bruxas”. Em sua conta no Twitter, a chancelaria russa (que identifica um idiota útil quando vê um) deu imediatamente um “like” no tuíte de Trump, acrescentando: “Nós concordamos”.
A coisa piorou quando, na entrevista coletiva com Putin, perguntaram a Trump se ele acreditava na conclusão de suas agências de inteligência de que a Rússia havia hackeado as eleições. O presidente jogou debaixo de um ônibus em movimento todo o aparato de inteligência americano. Quanto a quem hackeou a eleição, Trump disse: “Não vejo razão para ter sido a Rússia”. E uniu EUA e Rússia ao afirmar que “todos temos culpa, ambos cometemos erros”.
Trump está simples e insanamente obcecado com o que ocorreu na última eleição. Agora, porém, ele é presidente, e o fato de não haver provas de conluio com os russos não significa que ele não tenha, como presidente, a responsabilidade de assegurar que eles sejam punidos por interferir por conta própria na eleição e sejam efetivamente impedidos de repetir isso no futuro. Faz parte de seu contrato de emprego.
Putin desfechou um ataque cibernético contra os EUA para eleger Trump e semear divisões entre americanos. As agências de inteligência não têm dúvidas sobre isso. Na semana passada, o diretor de Inteligência Nacional, Dan Coats, descreveu a investida de Putin como “destinada a explorar a abertura dos EUA com objetivo de sabotar nossa vantagem competitiva no longo prazo”.
Não sou dado a teorias da conspiração, mas não consigo deixar de pensar que a primeira coisa que Trump disse a Putin no encontro privado dos dois, antes de seus assessores terem permissão para entrar, tenha sido algo como: “Vladimir, você e eu continuamos numa boa, certo?”. Ao que Putin teria respondido: “Donald, você não tem nada com que se preocupar. Basta continuar sendo você mesmo para continuarmos numa boa.”
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É COLUNISTA