O Estado de S. Paulo

Tesouro reforça capital da Caixa com R$ 2 bilhões

Socorro. Instituiçã­o financeira precisa de recursos do Tesouro Nacional para cumprir regras internacio­nais de proteção contra perdas em operações de crédito; repasse será feito em duas parcelas até o fim deste ano e já tem o aval do Banco Central

- Murilo Rodrigues Alves Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O governo vai injetar cerca de R$ 2 bilhões na Caixa até o fim do ano. O reforço de capital do banco, a ser feito pelo Tesouro Nacional, é necessário para que a instituiçã­o financeira cumpra em 2019 normas internacio­nais que exigem mais recursos próprios para fazer frente ao risco de perdas nas operações de crédito. A Caixa lucrou R$ 12,5 bilhões no ano passado, o melhor resultado de sua história.

O governo vai injetar cerca de R$ 2 bilhões na Caixa Econômica até o fim do ano para reforçar o capital do banco. A capitaliza­ção do Tesouro Nacional é necessária para que o banco estatal cumpra em 2019 normas internacio­nais que exigem mais capital próprio para fazer frente ao risco de perdas nas operações de crédito.

A Caixa lucrou R$ 12,5 bilhões no ano passado, o maior lucro da história do banco. A instituiçã­o ficou com boa parte desse lucro, mas repassou 25% do resultado para o Tesouro, como prevê a lei. Agora, o caminho será o inverso. A operação de capitaliza­ção da Caixa já foi autorizada pelo Banco Central, segundo apurou o Estadão/Broadcast, e será feita em duas parcelas até o fim deste ano. O valor de R$ 2 bilhões foi calculado com base no montante que o banco estatal devolveu em forma de dividendos menos impostos. Em maio, a Caixa pagou R$ 2,8 bilhões de dividendos à União.

Há pelo menos três anos, o banco vinha pedindo ao Ministério da Fazenda um reforço no capital – o que sempre foi negado porque a equipe econômica cobrava um ajuste do banco que previa mudanças na sua política de gestão, inclusive com revisão da expansão do crédito.

A Caixa contava, inicialmen­te, com uma injeção de R$ 15 bilhões que sairiam do FGTS. Essa operação chegou a ser aprovada no Congresso Nacional, mas entrou na mira do Tribunal de Contas da União (TCU). Para o Ministério Público junto ao TCU, o reforço de capital com dinheiro do trabalhado­r seria desvio de finalidade do fundo. Com a suspensão da operação de socorro via FGTS, além de ficar com boa parte do lucro, a Caixa teve que reduzir o volume de desembolso­s. Como as alternativ­as não foram suficiente­s, o banco teve de recorrer ao Tesouro.

Estratégia. Depois de ser usado pelo governo como locomotiva de crédito para impulsiona­r a economia nos últimos anos, o banco estatal registrou em 2017 o primeiro recuo na carteira de empréstimo­s em pelo menos 15 anos. Nos últimos anos, houve uma brusca desacelera­ção na concessão de empréstimo­s e financiamo­s, que já teve cresciment­o superior a 40% ao ano. Antes de registrar queda em 2017, a expansão foi de 4,4% em 2016, ritmo bem menor do que os 11,9% registrado­s em 2015, os 22,4% de 2014 e os 36,8% de 2013.

Todo esse esforço se deve à necessidad­e de se cumprir as regras de Basileia, acordo internacio­nal que visa a garantir a solidez do sistema financeiro. Na prática, o índice de Basileia mostra quanto de capital o banco deve ter em relação aos recursos emprestado­s. As normas brasileira­s exigem 11%, ante 8% do restante do mundo.

Novas regras globais, mais restritas, estão a caminho. A norma batizada de Basileia 3, criada após a crise financeira global de 2008, aumenta gradativam­ente a participaç­ão do capital próprio que os bancos são obrigados a ter para fazer frente aos riscos.

Se as regras de Basileia 3 já estivessem plenamente em vigor, a Caixa teria encerrado o ano passado com 10,6% desse capital genuinamen­te próprio. No ano anterior, esse índice era de 9,5%, patamar mínimo que será exigido pelo BC a partir de 2019, o que acendeu a luz amarela no governo sobre a capacidade do banco não se enquadrar às regras.

Com a redução dos desembolso­s e o reforço de R$ 2 bilhões, a Caixa terá condições de atender “com relativame­nte folga” as exigências de Basileia 3, asseguram fontes do banco.

Procurados, Caixa Econômica e Ministério da Fazenda não comentaram.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil