O Estado de S. Paulo

‘Doutor Bumbum’ é preso no Rio

Polícia. Eles são acusados pelo homicídio da bancária Lilian Calixto, que se submeteu a um procedimen­to estético com uma substância contraindi­cada dentro da cobertura do médico, na Barra da Tijuca; profission­al se defende e fala em ‘fatalidade’

- Roberta Jansen Marcio Dolzan / RIO

Denis Cesar Barros Furtado e a mãe foram localizado­s e presos no Rio após denúncia anônima. Ele é acusado pela morte da bancária Lilian Calixto. Ex-paciente contou ao Estado que foi submetida a operação em sua casa e ficou deformada. “Estragou a minha vida.”

O médico Denis Cesar Barros Furtado, o Dr. Bumbum, de 45 anos, e a mãe, a médica Maria de Fátima, de 66, foram presos ontem em um centro empresaria­l na Barra da Tijuca, aonde tinham ido para conversar com o advogado, Marcus Braga. Eles são acusados pelo homicídio de Lilian Calixto, de 46 anos, que se submeteu a um procedimen­to estético com um polímero contraindi­cado, o PMMA, no fim de semana. Outros dois envolvidos no atendiment­o já estão presos.

A bancária passou no sábado por um preenchime­nto dos glúteos na cobertura do médico na Barra da Tijuca, o que também seria contraindi­cado. Lilian sentiu-se mal e foi levada por ele ao Hospital Barra D’Or, onde morreu na madrugada de domingo. Depois da morte, Furtado e Maria de Fátima (que teve o registro de médica cassado em 2015) fugiram. Localizado­s em um shopping, chegaram a quebrar uma cancela para escapar.

Ontem, o advogado de ambos se preparava para apresentá-los à polícia – a Justiça havia decretado a prisão. Só que os acusados foram reconhecid­os e a informação chegou ao Disque-Denúncia. Agentes do Serviço Reservado foram ao local checar a informação e deram voz de prisão. Os dois foram levados à 16.ª DP (Barra da Tijuca), de onde devem ser removidos hoje para uma unidade prisional, após depoimento.

Antes da prisão, o Dr. Bumbum disse, em vídeo no Instagram, que foi uma “fatalidade” e afirmou já ter feito mais de 9 mil procedimen­tos estéticos em nádegas, sem problemas.

Defesa. Após a detenção, ele falou com a imprensa e se defendeu. “Eu mostro meu (registro no) CRM (Conselho Regional de Medicina)”, disse ele, agitado, ressaltand­o ser “médico em todo o Brasil”. Também afirmou que a morte de Lilian foi uma fatalidade e não haveria problema em realizar esse tipo de procedimen­to em casa, por ser “minimament­e invasivo”.

O CRM do Distrito Federal informou ontem que o processo ético-profission­al ao qual ele respondia foi concluído, com decisão de cassação de registro, que deve ser submetida ao Conselho Federal de Medicina.

“Realizamos (a intervençã­o) por volta de seis, sete horas da noite”, relatou o médico. “Ela (Lilian) saiu bem da maca. (Ficou) até umas dez horas. E me relatou leve enjoo e queda de pressão.” Segundo ele, a paciente não sentia dor ou falta de ar. “Absolutame­nte nada.”

Segundo o Dr. Bumbum, às 23h30 decidiu levar Lilian ao Hospital Barra D’Or, por causa da queda de pressão. “Ela chegou ao hospital consciente, andando”, disse. “A pressão estava 9 por 6. Estava com batimentos cardíacos a 60 (normais). Ao receber adrenalina, foi a 128 – o que é alto.” Disse ainda que questionou a colega a respeito da administra­ção da substância. “A médica simplesmen­te falou: ‘É o nosso protocolo’.”

Também afirmou que não pôde ficar com Lilian na sala em que era atendida. Em resposta, o Barra D’Or informou que Lilian foi atendida por volta das 23 horas (de sábado), apresentan­do “quadro extremamen­te grave, não responsivo às manobras de recuperaçã­o e foi a óbito à 1h do dia 15”. E negou ter havido impediment­o “ao acesso de qualquer profission­al, familiar ou acompanhan­te”.

Investigaç­ão.

“São muitas perguntas para fazer. Como se dava a atividade, se havia autorizaçã­o, como se deu a morte da paciente, por que ele não ficou no hospital?”, disse a delegada Adriana Belém. Segundo ela, só os crimes de homicídio qualificad­o e associação criminosa podem levar a penas de 12 a 30 anos. O assassinat­o teria se dado por dolo eventual, quando o

acusado assume consciente­mente o risco de matar, embora não seja a sua intenção. Especialis­tas ainda apontam outras penalizaçõ­es possíveis (mais informaçõe­s nesta página).

A hipótese mais aceita é a de que a substância PMMA teria sido injetada acidentalm­ente em um vaso sanguíneo. Assim, teria entrado na corrente sanguínea, alcançando o pulmão e provocado uma embolia. Na casa do médico, a polícia achou recipiente­s de PMMA, o polímero usado para preenchime­nto. A substância só é liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em casos muito específico­s.

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JOSÉ LUCENA/FUTURA PRESSS
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FABIO MOTTA/ESTADÃO Na DP. Delegada ressalta que só os crimes de homicídio qualificad­o e associação criminosa podem dar 30 anos de prisão

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