‘Doutor Bumbum’ é preso no Rio
Polícia. Eles são acusados pelo homicídio da bancária Lilian Calixto, que se submeteu a um procedimento estético com uma substância contraindicada dentro da cobertura do médico, na Barra da Tijuca; profissional se defende e fala em ‘fatalidade’
Denis Cesar Barros Furtado e a mãe foram localizados e presos no Rio após denúncia anônima. Ele é acusado pela morte da bancária Lilian Calixto. Ex-paciente contou ao Estado que foi submetida a operação em sua casa e ficou deformada. “Estragou a minha vida.”
O médico Denis Cesar Barros Furtado, o Dr. Bumbum, de 45 anos, e a mãe, a médica Maria de Fátima, de 66, foram presos ontem em um centro empresarial na Barra da Tijuca, aonde tinham ido para conversar com o advogado, Marcus Braga. Eles são acusados pelo homicídio de Lilian Calixto, de 46 anos, que se submeteu a um procedimento estético com um polímero contraindicado, o PMMA, no fim de semana. Outros dois envolvidos no atendimento já estão presos.
A bancária passou no sábado por um preenchimento dos glúteos na cobertura do médico na Barra da Tijuca, o que também seria contraindicado. Lilian sentiu-se mal e foi levada por ele ao Hospital Barra D’Or, onde morreu na madrugada de domingo. Depois da morte, Furtado e Maria de Fátima (que teve o registro de médica cassado em 2015) fugiram. Localizados em um shopping, chegaram a quebrar uma cancela para escapar.
Ontem, o advogado de ambos se preparava para apresentá-los à polícia – a Justiça havia decretado a prisão. Só que os acusados foram reconhecidos e a informação chegou ao Disque-Denúncia. Agentes do Serviço Reservado foram ao local checar a informação e deram voz de prisão. Os dois foram levados à 16.ª DP (Barra da Tijuca), de onde devem ser removidos hoje para uma unidade prisional, após depoimento.
Antes da prisão, o Dr. Bumbum disse, em vídeo no Instagram, que foi uma “fatalidade” e afirmou já ter feito mais de 9 mil procedimentos estéticos em nádegas, sem problemas.
Defesa. Após a detenção, ele falou com a imprensa e se defendeu. “Eu mostro meu (registro no) CRM (Conselho Regional de Medicina)”, disse ele, agitado, ressaltando ser “médico em todo o Brasil”. Também afirmou que a morte de Lilian foi uma fatalidade e não haveria problema em realizar esse tipo de procedimento em casa, por ser “minimamente invasivo”.
O CRM do Distrito Federal informou ontem que o processo ético-profissional ao qual ele respondia foi concluído, com decisão de cassação de registro, que deve ser submetida ao Conselho Federal de Medicina.
“Realizamos (a intervenção) por volta de seis, sete horas da noite”, relatou o médico. “Ela (Lilian) saiu bem da maca. (Ficou) até umas dez horas. E me relatou leve enjoo e queda de pressão.” Segundo ele, a paciente não sentia dor ou falta de ar. “Absolutamente nada.”
Segundo o Dr. Bumbum, às 23h30 decidiu levar Lilian ao Hospital Barra D’Or, por causa da queda de pressão. “Ela chegou ao hospital consciente, andando”, disse. “A pressão estava 9 por 6. Estava com batimentos cardíacos a 60 (normais). Ao receber adrenalina, foi a 128 – o que é alto.” Disse ainda que questionou a colega a respeito da administração da substância. “A médica simplesmente falou: ‘É o nosso protocolo’.”
Também afirmou que não pôde ficar com Lilian na sala em que era atendida. Em resposta, o Barra D’Or informou que Lilian foi atendida por volta das 23 horas (de sábado), apresentando “quadro extremamente grave, não responsivo às manobras de recuperação e foi a óbito à 1h do dia 15”. E negou ter havido impedimento “ao acesso de qualquer profissional, familiar ou acompanhante”.
Investigação.
“São muitas perguntas para fazer. Como se dava a atividade, se havia autorização, como se deu a morte da paciente, por que ele não ficou no hospital?”, disse a delegada Adriana Belém. Segundo ela, só os crimes de homicídio qualificado e associação criminosa podem levar a penas de 12 a 30 anos. O assassinato teria se dado por dolo eventual, quando o
acusado assume conscientemente o risco de matar, embora não seja a sua intenção. Especialistas ainda apontam outras penalizações possíveis (mais informações nesta página).
A hipótese mais aceita é a de que a substância PMMA teria sido injetada acidentalmente em um vaso sanguíneo. Assim, teria entrado na corrente sanguínea, alcançando o pulmão e provocado uma embolia. Na casa do médico, a polícia achou recipientes de PMMA, o polímero usado para preenchimento. A substância só é liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em casos muito específicos.