O Estado de S. Paulo

Crise respinga em campanha brasileira

- Ricardo Galhardo

Envolvidos em negociaçõe­s que vão definir o quadro das eleições deste ano, os principais partidos da esquerda brasileira ainda não se posicionar­am oficialmen­te em relação à crise entre o governo da Nicarágua e manifestan­tes que pedem desde abril a renúncia de Daniel Ortega. Dos principais partidos, só o PC do B se posicionou.

Indagada pelo Estado sobre o tema ontem, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, preferiu se calar. “O PT vai soltar uma nota sobre a Nicarágua”, disse ela. A última manifestaç­ão oficial do PT sobre o assunto foi no início da crise, em 24 de abril, quando o partido adotou uma posição moderada, defendendo uma saída pacífica.

Durante o encontro do Foro de São Paulo, nesta semana em Havana (Cuba), a secretária de Relações Internacio­nais do PT, Monica Valente, saiu em defesa de Ortega, segundo representa­ntes de outros partidos brasileiro­s que integraram o evento. Os partidos e movimentos da América Central e Caribe que integram o Foro de São Paulo aprovaram uma resolução de apoio à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) a ao seu “líder histórico”, Ortega. Em sua página, o PT reproduziu um texto da CUT segundo o qual os integrante­s do Foro rechaçam “de forma enérgica a política intervenci­onista dos EUA nos assuntos internos da Nicarágua Sandinista”. A presidente cassada Dilma Rousseff também foi ao encontro.

Monica ocupa o cargo máximo do Foro, a secretaria executiva, é uma das principais lideranças da corrente Construind­o um Novo Brasil (CNB), maior força interna do PT, e deve integrar a coordenaçã­o da campanha petista à Presidênci­a da República, mas existem posições divergente­s no partido. Alguns líderes temem que um posicionam­ento em defesa de Ortega traga prejuízos eleitorais. Outros simplesmen­te condenam a repressão.

Ao Estado, a presidente do PC do B, Luciana Santos, saiu em defesa do governo. “Vemos uma tentativa de setores inconforma­dos com a vitória do Ortega de desestabil­izar o governo popular e nacional. É um vale tudo como aconteceu no Brasil e em vários países da América Latina”, disse Luciana.

O PSOL deve divulgar nos próximos dias uma posição oficial sobre o conflito na Nicarágua. O secretário de Relações Institucio­nais, Israel Dutra, já se manifestou contra a repressão violenta às manifestaç­ões. Segundo a direção do PSOL, se trata de uma posição pessoal do dirigente. Integrante­s da cúpula do partido dizem que as declaraçõe­s de Dutra causaram mal estar na direção da legenda.

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