O QUE A AMAZÔNIA DEVE AOS ANDES?
Interação montanha-floresta cria biodiversidade
AAmérica do Sul abriga a maior biodiversidade do planeta, especialmente na Amazônia. Por muitos anos, os cientistas têm especulado sobre os processos que levaram ao surgimento de um número tão grande de espécies na região. Com base em simulações da evolução nos últimos 800 mil anos, feitas em sofisticados modelos digitais, um grupo de cientistas mostrou que a Cordilheira dos Andes foi a força propulsora da exuberância biológica do continente.
De acordo com Thiago Rangel, pesquisador da Universidade Federal de Goiás e primeiro autor do artigo publicado ontem na revista Science, a biodiversidade sul-americana foi determinada por um processo evolutivo movido por fatores geológicos, biológicos e climáticos.
Enquanto se alternavam longos períodos de glaciações e de aquecimento global na Terra, as espécies se refugiavam do frio no interior da floresta e subiam para os Andes, a mais longa cadeia de montanhas do planeta, nas fases quentes.
Segundo Rangel, por reunir uma imensa gama de condições climáticas, a cordilheira funciona como um “seguro contra mudanças do clima” para animais e plantas. “À medida que se sobe a montanha, fica mais frio e há climas para todos os gostos. As espécies próximas aos Andes podem mudar, subir ou descer para acompanhar as mudanças climáticas de forma mais eficiente. Mas a cordilheira não é contínua e uma mesma espécie pode subir para diferentes montanhas, onde fica isolada por longos períodos. Quando desce, já houve diversificação e novas espécies surgiram”, explicou Rangel ao Estado.
Não só a Amazônia, mas também a Mata Atlântica, bem mais distante, deve sua biodiversidade à cordilheira. “Nos períodos mais quentes, entre as glaciações, a Amazônia se expande e cria conexão para que as espécies andinas migrem para a Mata Atlântica através do Pantanal e vice-versa”, disse Rangel. “Nos períodos glaciais, os trópicos não esfriam tanto, mas perdem umidade e o Cerrado é que se expande sobre a Amazônia e o Pantanal, isolando os Andes da Mata Atlântica. Com isso, as espécies em cada lugar tomarão rumos evolutivos independentes, criando mais diversidade.”/