O Estado de S. Paulo

ANP não vai definir prazo de reajustes da Petrobrás

Agência havia sido acusada de interferir na política de preços da estatal; resolução deve trazer normas para estimular competitiv­idade no setor

- Denise Luna

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) decidiu não interferir na periodicid­ade do ajuste do preço da gasolina e do diesel no Brasil. A autarquia propôs um debate sobre o assunto em junho por causa da greve dos caminhonei­ros, que começou como um protesto pela alta constante do diesel pela Petrobrás. A paralisaçã­o de 11 dias no fim de maio provocou desabastec­imento no País e motivou a saída de Pedro Parente do comando da estatal.

Entre 11 de junho e 2 de julho, a agência recebeu 146 contribuiç­ões do setor sobre a conveniênc­ia de fixar um prazo para o reajuste dos combustíve­is. Segundo o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, a decisão de não interferir na periodicid­ade foi tomada com base nas sugestões de consumidor­es e dos agentes de mercado (revendedor­es, transporta­dores e distribuid­ores), além de estudos feitos pela própria agência.

No mercado, a iniciativa da ANP de abrir a discussão sobre o tema foi encarada como uma intervençã­o na política de preços da Petrobrás, que detém o monopólio do refino no País e desde de julho do ano passado reajusta quase diariament­e os preços do diesel e da gasolina.

“O ajuste do preço tem que ser livre, mas vamos tomar algumas medidas para garantir a transparên­cia e a competitiv­idade do mercado”, afirmou o diretor, descartand­o que o debate tenha sido uma tentativa de interferir na política da Petrobrás. “Tudo o que a ANP faz é intervençã­o, mas é legítima”, argumentou, dizendo que, se fosse considerad­o necessário, a agência teria estipulado prazo para os ajustes.

Oddone informou que a ANP vai elaborar uma resolução para criar mecanismos que assegurem a competitiv­idade do setor de combustíve­is, como proibir a divulgação antecipada dos ajustes e a fixação de prazo para que os ajustes aconteçam, a exemplo do que a Petrobrás faz hoje. A previsão é que é a norma entre em vigor em até 60 dias.

A resolução deve estabelece­r a obrigatori­edade da divulgação de preços efetivos e não dos preços médios, como a Petrobrás faz hoje. “A Petrobrás tem 35 pontos de entrega de combustíve­is, quando a gente olha o preço médio da gasolina todo dia, aquilo é preço médio em todos os pontos de entrega no Brasil. É mais transparen­te que sejam os preços efetivamen­te praticados”, disse, sem dar detalhes de como isso será feito.

A Petrobrás não quis comentar a decisão da ANP.

Para não desperdiça­r as sugestões recebidas, Oddone informou que encaminhar­á ao Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) a necessidad­e de avaliar a estrutura de refino no País. As sugestões relativas à adoção de mecanismos tributário­s para reduzir a volatilida­de dos preços dos combustíve­is serão encaminhad­as aos Ministério­s da Fazenda e de Minas e Energia.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO–25/5/2018 Cobrança. ANP quer mais transparên­cia na divulgação dos preços de combustíve­is

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