O Estado de S. Paulo

Bancos colocam em dúvida renovação de contrato entre Multiplus e Latam

Horizonte. Em função de questões fiscais e do fato de a aérea ter seu próprio programa de fidelidade no Chile, instituiçõ­es como Santander e UBS passaram a considerar improvável a manutenção do acordo, que vence em 2024; valor da Multiplus poderia cair 66

- Luciana Dyniewicz

A parceria entre a companhia aérea Latam e a empresa de fidelidade Multiplus pode estar perto do fim. Desde o fim de maio, analistas do mercado financeiro têm colocado em dúvida a renovação do contrato entre as duas, que vence em 2024. O fim do acordo poderia fazer o valor de mercado da Multiplus cair 66%, segundo o banco suíço UBS. Hoje, a empresa é avaliada em R$ 4,5 bilhões.

Entre os motivos que levam os bancos a apostar no fim da parceria estão a relevância relativame­nte pequena da Multiplus dentro da Latam (11% do valor de mercado do grupo), ineficiênc­ias fiscais e o fato de a Latam ter seu próprio programa de fidelidade no Chile.

“Presumimos que o contrato Multiplus–Latam não será renovado”, afirmaram os analistas Henrique Navarro e Olavo Arthuzo, do Santander. “Achamos que a renovação do contrato é muito improvável”, escreveram Lucas Barbosa e Rogério Araujo, do UBS.

Pioneira no setor de fidelidade no País, a Multiplus começou a ser questionad­a por não ser um programa criado pela chilena LAN, que comprou a TAM em 2010, formando a Latam. O grupo tem outro programa de fidelidade no Chile e, segundo analistas, uma marca única fortalecer­ia o serviço.

A questão de ineficiênc­ia fiscal, entretanto, é apontada como prepondera­nte para o fim da parceria. Com resultados voláteis, as companhias aéreas, não raramente, são isentas de impostos de renda por apresentar­em prejuízos. O mesmo não vale para as empresas de fidelidade, que apresentam resultados mais sólidos. Incluir o programa de fidelidade dentro da própria aérea acabaria, portanto, reduzindo pagamento de tributos.

Segundo cálculos do Santander, essa ineficiênc­ia fiscal seria de R$ 771 milhões para a Latam e de R$ 892 milhões para a Gol. No caso da última, porém, o banco dá uma probabilid­ade de 50% para o fim de contrato. O fato de o acordo entre Smiles e Gol ter vigência maior – até 2032 – e a situação financeira menos sólida da Gol pesam a favor de uma renovação. Como a Smiles compra passagens da Gol com antecedênc­ia, essa parceria acaba sendo mais importante para a aérea.

Geração de valor. Um analista do mercado financeiro que não quis se identifica­r destaca que o fim do contrato entre Multiplus e Latam colocaria a empresa de fidelidade em posição delicada, já que sua principal geração de valor estaria ameaçada.

A mesma fonte afirma que, por enquanto, a probabilid­ade maior é de não renovação dos contratos, mas lembra que as empresas anunciaram, recentemen­te, que a Multiplus é a responsáve­l pelo programa de fidelidade do grupo no Brasil e no Paraguai, no México, nos EUA, no Canadá e na Europa, enquanto o Latam Pass trabalha nos mercados do Chile e da Argentina. “Isso joga a favor da tese da renovação”, disse.

O analista lembra ainda que a participaç­ão de 72,7% da Latam na Multiplus também pode favorecer a renovação do contrato. Para UBS e Santander, porém, isso não seria suficiente.

Mais moderado do que UBS e Santander, o Credit Suisse incorpora uma possibilid­ade de 25% de não renovação tanto para Multiplus e Latam como para Smiles e Gol. “É um risco relevante de longo prazo, principalm­ente para a Multiplus, cujo contrato se encerra no fim de 2024”, escreveram os analistas Felipe Vinagre, Thiago Casseb e Alejandro Zamacona.

Apesar de apontar para o fim da parceria, o Santander afirma que esse não seria o fim da Multiplus. A companhia deixaria de ter descontos na compra de bilhetes aéreos e dependeria mais de seu faturament­o no varejo.

Outro lado. Procurada, a Latam afirmou não comentar rumores de mercado. A Multiplus informou que “não há qualquer intenção de rompimento do acordo” e que a “sinergia e a parceria entre as empresas têm evoluído”.

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