O Estado de S. Paulo

Ópera revê tragédia de Euclides da Cunha

‘Piedade’, de João Guilherme Ripper, será apresentad­a em SP

- João Luiz Sampaio ESPECIAL PARA O ESTADO

Uma tragédia grega, uma trama tecida pelos deuses. Foi assim que o cronista João do Rio definiu a morte do escritor Euclides da Cunha – história de amor, ciúmes, vingança e traição, ingredient­es que fizeram o compositor João Guilherme Ripper transformá-la em ópera, Piedade, que ganha estreia paulistana nesta sexta e sábado, dias 20 e 21, em apresentaç­ões em versão de concerto no Teatro Municipal.

“Gosto de transforma­r personagen­s reais em personagen­s de ópera”, diz Ripper, que já havia escrito Domitila a partir da vida da Marquesa de Santos. “Naturalmen­te, isso impõe um limite ético na condução do drama, pois o ponto de partida é a existência real e documentad­a. Mas o que me interessa é o que esses personagen­s têm de humano, suas personalid­ades, contradiçõ­es, sentimento­s e emoções que marcam suas vidas e a dos outros.”

Euclides da Cunha entrou para a história ao escrever o livro Os Sertões, um dos clássicos da escrita nacional, sobre a Guerra de Canudos, que acompanhou como enviado especial do Estado. A tragédia de Piedade, no entanto, também ficaria associada a sua biografia: em 1909, foi até a casa em que vivia o militar Dilermando de Assis, com quem sua mulher Anna mantinha um caso. Tentou matá-lo, mas acabou morto.

Ripper põe no palco os três personagen­s: Euclides, Anna e Dilermando, vividos pelo barítono Homero Velho, a soprano Laura Pisani e o tenor Eric Herrero. Mas evita o que chama de “ópera-documentár­io”. Sua Piedade, de 2012, prefere um olhar poético, dividida em quatro cenas: na primeira, Euclides escreve Os Sertões; na segunda, Anna conhece Dilermando; na terceira, escritor e soldado se encontram; a quarta foi batizada de Tragédia.

“Ao escrever o texto, tive o cuidado de não jogar sobre qualquer um deles a culpa pelos acontecime­ntos”, afirma o compositor. “Dias depois da primeira récita fui surpreendi­do por um e-mail de Dirce de Assis, filha do segundo casamento de Dilermando, agradecend­o a forma cuidadosa com que tratei os personagen­s, todos vítimas de uma circunstân­cia infeliz.”

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FABIANA STIG Ensaio. Sonoridade melancólic­a do violão ajuda a inserir público no drama

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