O Estado de S. Paulo

‘Mais para Sócrates do que para Neymar’

Para o ator, monólogo traz uma chance de rir, mas também de refletir sobre o que tem acontecido no País

- / L.N.

O caso do julgamento do filósofo Sócrates não está nada distante de nós, afirma Tonico Pereira. “Há uma série de figuras na história que sofreram casos de silenciame­nto injusto, mesmo que com a ajuda da justiça da época: Jesus Cristo, Joana d’Arc, Nelson Mandela e por que não dizer Marielle Franco, em uma execução sumária. Vou parar por aqui para não complicar mais.”

Apesar do tema conturbado no espetáculo O Julgamento de Sócrates, a peça é uma comédia, que fala, entre outras coisas, da liberdade das ideias. O ator conta que o aspecto cômico surge junto aos paralelos com acontecime­ntos no Brasil, uma chance de repassar o mau tempo no País rindo. “Eu começo a contar uma história e casos da vida política e da nossa sociedade se misturam. Diante de tanto absurdo, a resposta da plateia é o riso”, diz.

A expressão amistosa do ator só muda quando Pereira é questionad­o se assistiu à Copa do Mundo. Antes de responder, o ator se apruma na cadeira: “Eu acompanhei”, e dá de ombros. “Não gosto do que o futebol se tornou. A essência virou o mercado.” Para ele, o esporte era o elo entre o atleta e o torcedor e agora essa comunhão se desfez, quando os jogadores passaram a se comportar – e são tratados – como grifes. “Quando um jogador fazia gol, ele corria para festejar com os torcedores no estádio. Hoje, o fulano corre para a frente das câmeras para aparecer, para virar comercial.”

Sobre o desempenho da Seleção Brasileira na Rússia, Tonico torce o nariz. “Não teve um líder natural”, e recorda a Copa de 1958. “O brado de independên­cia foi dado pelo meia Didi. Depois que o Brasil tomou o primeiro gol, ele buscou a bola na rede e foi conversand­o com os companheir­os. No próximo lance, o time encarou aqueles loirinhos e fez um estrago na Suécia.” Diante dessa “industrial­ização”, o ator, enfim, não se contém. “Estou mais para Sócrates do que para Neymar. E anota aí, são os dois Sócrates.”

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