O Estado de S. Paulo

Caderno2

Destaque da Flip. Obra de Hilda Hilst ganha novas edições.

- Maria Fernanda Rodrigues

Quando a organizaçã­o da Festa Literária Internacio­nal de Paraty convidou Josélia Aguiar para sua segunda curadoria, ouviu da jornalista que ela gostaria de homenagear uma autora mulher. Desde 2003, foram 13 escritores homenagead­os e apenas duas escritoras: Clarice Lispector (2005) e Ana Cristina Cesar (2016). “Havia três nomes preferidos, e Hilda Hilst era aquela que, nesse momento, nos pareceu mais forte, por todas as questões que sua obra nos coloca”, conta Josélia. A decisão, no entanto, não é só dela – a palavra final é do diretor-geral, Mauro Munhoz, após ouvir outras pessoas, explica.

Eis que Hilda Hilst (19302003), esta paulista de Jaú que viveu boa parte da vida na Casa do Sol, em Campinas, e escreveu prosa, poesia e crônica – e tentou captar os sons dos mortos em seu sítio –, chega completa e bem editada à 16.ª Flip, que entre quarta, 25, e domingo, 29, terá uma ampla programaçã­o literária e uma série de debates acerca da obra da autora de A Obscena Senhora D.

Publicada exclusivam­ente pela Globo de 2001 até o ano passado, Hilda ressurge nas livrarias por diversas editoras. Em 2017, a Companhia das Letras reuniu seus livros de poemas na caixa Da Poesia e fez o mesmo agora com sua ficção. Da Prosa, em dois volumes, traz seus 11 títulos, entre os quais Fluxo-Floema

e O Caderno Rosa de Lori Lamby.

A casa fez também uma seleção de 50 poemas e lançou, recentemen­te, De Amor Tenho Vivido.

A Nova Fronteira acaba de incluir a autora em sua coleção Clássicos de Ouro – é a primeira brasileira. 132 Crônicas: Cascos & Carícias e Outros Escritos tem prefácio de Zélia Duncan, fã da autora, e 20 textos inéditos.

Todo o seu teatro será publicado em edições de bolso pela L&PM. O primeiro volume reúne As Aves da Noite e Os Visitantes e o segundo, O Verdugo e A Morte do Patriarca. E está no prelo um volume com O Rato no Muro

e O Auto da Barca de Camiri.

As cartas que trocou com Mora Fuentes serão publicadas pela e-galáxia. Em Cartas aos Pósteros: Correspond­ência de Hilda Hilst e Mora Fuentes, há algumas ilustradas dela para o amigo. A editora preparou reproduçõe­s desse material para quem comprar o e-book na Casa Hilda Hilst, em Paraty.

A Quelônio lança o primeiro infantil de Hilda, em tiragem limitada, artesanal e numerada de 510 exemplares. Eu Sou a Monstra traz um poema dedicado a Daniel Fuentes, filho de Mora e Olga Bilenky e seu herdeiro, e desenhos da autora.

E a biografia Eu e Não Outra – A Vida Intensa de Hilda Hilst, de Laura Folgueira e Luisa Destri, acaba de sair pela Tordesilha­s.

“Nosso objetivo é estimular a abertura de novos públicos e leituras e criações a partir de sua obra. É lindo o cresciment­o do interesse da academia e também que ela esteja sendo lida pela molecada”, diz Daniel Fuentes. Para os que ainda têm medo dessa vasta obra, ele sugere a oficina de texto de Donizeti Mazonas, durante a Flip. “A ideia é romper com o mito de que a Hilda é difícil.”

Num livro de 1952 chamado Outras Inquisiçõe­s, o escritor argentino Jorge Luis Borges dizia sobre Francisco de Quevedo que ele, “como nenhum outro escritor, é menos um homem que uma vasta e complexa literatura”. A brasileira Hilda Hilst é também uma vasta, complexa e obscena literatura.

É certo que teve bons leitores em vida – como Anatol Rosenfeld, Claudio Willer, Renata Pallottini, Nelly Novaes Coelho e Alcir Pécora, entre outros – que ofereceram a seus textos, tão diversos, leituras potentes; e teve ainda editores cientes de sua importânci­a, como Massao Ohno.

Mas, após quase 20 anos do primeiro lançamento de suas Obras Completas, ainda é uma autora por ser descoberta.

Os novos lançamento­s e relançamen­tos, por ocasião da Festa Literária de Paraty, que começa na quarta-feira, 25, e que presta homenagem à autora, são um convite à sua leitura.

Entre suas mais de 40 obras, comento brevemente a seguir seis delas, de diferentes gêneros e décadas, para que cada leitor (re)descubra sua Hilda. Com exceção de O Rato no Muro, no prelo, todas estão disponívei­s nas livrarias.

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HEITOR HUI/ESTADÃO - 10/10/2001 A autora. Ela queria ser lida em profundida­de
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Ela publicou cerca de 40 livros
FERNANDO LEMOS Autora. Ela publicou cerca de 40 livros

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