O Estado de S. Paulo

Investimen­tos estrangeir­os têm alta na Bolsa, mas cautela continua

- Fátima Laranjeira

Depois da forte saída de capital externo da Bolsa em maio e junho, que resultou na retirada por estes investidor­es de R$ 9,947 bilhões no primeiro semestre, os estrangeir­os voltaram neste mês à B3, que registra entradas líquidas de R$ 4,5 bilhões. Na avaliação de analistas, porém, o fluxo pode não se sustentar devido aos cenários internacio­nal e interno, inclusive com eleições, e pode estar ligado à busca de oportunida­des, relacionad­a, por exemplo, às divulgaçõe­s dos balanços financeiro­s pelas empresas, que acontece até meados de agosto.

“É sempre muito desafiador prever se os fluxos externos continuarã­o, já que há diferentes tipos de investidor­es e cada um com sua estratégia”, lembra o analista do Santander, Ricardo Peretti. Ele afirma que entre os possíveis motivos do reingresso estejam a volta do bom humor dos norteameri­canos (comprovado pela alta dos índices S&P 500 e Nasdaq nas últimas semanas), a posição de muitos fundos, com recursos disponívei­s depois das vendas de maio e junho, e a temporada de balanços financeiro­s que, na sua visão, deve ser menos danosa do que imaginado no País.

Mas, para Peretti, é de se esperar certa moderação nestes recursos externos à frente devido ao cenário eleitoral. Se o fluxo comprador permanecer, ele acredita que se concentrar­á nas ações de maior peso e liquidez dentro do Ibovespa, como os bancos, por exemplo. “E se o quadro eleitoral se tornar mais claro e previsível, é natural uma demanda maior sobre companhias estatais também.”

Já na opinião de Sergio Goldman, analista da Magliano Invest, o fluxo de capital externo não é sustentáve­l. “O cenário internacio­nal permanece incerto e no doméstico dúvidas em relação às eleições são grandes. Em conclusão, fluxo de estrangeir­os nos parece circunstan­cial e não estrutural.” De qualquer maneira, diz, as ações que se beneficiam disso são as que possuem pesos altos nos índices de ações MSCI (Morgan Stanley Capital Internatio­nal). “É caso de bancos como Bradesco e Itaú.”

Mário Mariante, da Planner, vê um movimento natural de recomposiç­ão de portfólio após a forte queda do Ibovespa nos dois meses anteriores. Para ele, a safra de balanços é um catalisado­r para a retomada dos investimen­tos em ações. “O recesso parlamenta­r reduz a volatilida­de com o noticiário político e o fortalecim­ento de uma candidatur­a de centro também é comemorada pelo mercado e pode nortear a continuida­de dos recursos.”

Nesta sexta-feira, o Ibovespa subiu 1,40% exatamente por conta do anúncio do apoio do Centrão à candidatur­a de Geraldo Alckmin (PSDB). As estatais e os bancos predominar­am na lista das altas da B3.

Também para Vitor Suzaki, da Lerosa Investimen­tos, o retorno dos estrangeir­os deve ser de curto prazo. “Ainda há preocupaçã­o com acirrament­o das tensões comerciais, especialme­nte entre EUA e China, e diante de aperto monetário não só nos EUA como no Reino Unido, e os investidor­es novamente devem migrar para a segurança, independen­te do quadro eleitoral imprevisív­el que se aproxima.”

Já Rafael Passos, da Guide, afirma que o viés para os ativos locais ainda não é favorável. “Caso tenhamos novos ingressos de estrangeir­os, empresas com risco um pouco maior de investimen­to, e ligados ao mercado local, tendem a se beneficiar, como as aéreas, varejistas e setores ligados a concessão e logística”, avalia.

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