O Estado de S. Paulo

Programa do Centrão

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA DO BROADCAST

Oapoio dos partidos do Centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD) à candidatur­a do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) passou ao largo de uma negociação programáti­ca em torno das diretrizes de política econômica para o próximo governo. Foi, na verdade, uma grande desculpa.

Embora gritante, a incompatib­ilidade do programa econômico foi a cortina de fumaça do Centrão para se afastar das negociaçõe­s com o candidato do PDT, Ciro Gomes, à Presidênci­a, patrocinad­a por Rodrigo Maia, presidente da Câmara.

O programa de fundo é o de sempre: vamos ter espaço ou não no próximo governo? Tempo de televisão, alianças regionais, protagonis­mo nas mesas diretoras da Câmara e do Senado em 2019 e cargos estão no centro da negociação, ainda cheia de incertezas diante da reação dos políticos dos dois lados prejudicad­os nos seus redutos pela aliança nacional.

Alckmin já está, inclusive, sendo atacado por aliados que tiveram a vida complicada pelo acordo.

Dos cinco partidos do Centrão, talvez o DEM fosse o com maior dificuldad­e em enquadrar sua plataforma liberal ao programa econômico de Ciro. Para os parlamenta­res do restante dos partidos, ajustando vai. A maior parte deles estava nos governos petistas.

Mesmo assim, foi o próprio Maia quem escalou o economista Claudio Adilson Gonçalez para apontar que as ideias defendidas por Ciro eram inconciliá­veis com a plataforma liberal do DEM após reunião com o coordenado­r econômico de candidato, Mauro Benevides. Tudo isso na véspera do acordo do Centrão com o presidenci­ável do PSDB.

Não dá para negar que Ciro era o único presidenci­ável que tinha até agora, de fato, detalhado para o público em geral o que pretende fazer no seu programa econômico, inclusive para a reforma da Previdênci­a.

Mas Ciro também mostrou enorme incoerênci­a. Prometeu fazer ajustes no programa para se aliar ao Centrão, voltou atrás na ideia de “revogar” a reforma trabalhist­a. E, agora, depois do acordo do Centrão com os tucanos, tenta voltar para o lugar onde estava, mais próximo dos partidos de esquerda.

Os demais candidatos, por enquanto, apresentar­am propostas generalist­as. Alckmin só falou de forma geral. Marina o mesmo e o PT também. Estratégia natural nesse momento delicado da campanha eleitoral de definição das alianças e das candidatur­as.

Com um grupo tão heterogêne­o como o do Centrão, Alckmin já começou a ter dificuldad­es para ajustar o discurso econômico. Nas redes sociais, disse que não vai revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhist­a e que não há plano de trazer de volta o imposto sindical.

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical e presidente do Solidaried­ade, no entanto, cobrou a volta do financiame­nto para os sindicatos em troca do apoio a Alckmin. Ele também é resistente à proposta de reforma da Previdênci­a dura.

Outro problema à vista é a ideia do ex-governador, já confirmada por ele em entrevista, de reduzir de 30 para 20 o número de ministério­s. Tipo de proposta que todos os presidente­s prometem para reduzir gastos e dar mais eficiência à maquina administra­tiva, mas que sempre enfrenta a resistênci­a dos partidos aliados sedentos por cargos e prestigio na Esplanada.

Ninguém imagina que nas negociaçõe­s com as lideranças do Centrão Alckmin ficou ali discutindo temas de programa. Esse tipo de conversa, se aparecer, só mais adiante.

O mais provável é que no campo econômico a maior convergênc­ia do Centrão com o PSDB se dê na reforma tributária, a preferida dos partidos para começar na lista de prioridade­s da agenda econômica em 2019. Ela pode ganhar protagonis­mo nos debates em substituiç­ão à agenda impopular da Previdênci­a.

Nos bastidores das articulaçõ­es políticas feitas com os coordenado­res econômicos, é a reforma tributária que tem tido maior destaque para ser discutida depois das urnas. Mesmo considerad­a inadiável, ela é a mais complexa das reformas porque implica num jogo em que uns perdem e outros ganham.

Difícil é saber a essa altura qual presidenci­ável terá coragem de expor sua plataforma econômica quando a campanha esquentar. Pelo histórico brasileiro, vamos continuar nas generalida­des.

Difícil saber qual presidenci­ável terá coragem de expor sua plataforma econômica

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