O Estado de S. Paulo

GALPÃO DE ADUBO VAZIO PREOCUPA PRODUTOR

Agricultor diz que preço do frete para levar insumos até a sua propriedad­e subiu 45%

- Márcia De Chiara

Em outros anos, nesta época, o produtor Antonio Pedrini, há 35 plantando soja e milho, já estaria com todos os insumos em casa. É que normalment­e, logo após a primeira chuva, depois de 15 de setembro, ele começa a semear os 1.200 hectares que cultiva em Maringá, norte do Paraná. Mas este ano a situação é diferente: o galpão onde armazena o adubo e sementes está vazio e ele, preocupado.

“Com essa greve (dos caminhonei­ros), ficou tudo parado. Não está chegando adubo, semente e até calcário que a gente aplica todo ano”, conta o produtor. Neste ano, Pedrini decidiu não corrigir o solo com o uso de calcário por causa do aumento do custo do frete, depois do tabelament­o determinad­o pelo governo. “Sei que vou ter perda de produtivid­ade, porque não consegui puxar o calcário”, admite o produtor. Ele explica que o frete subiu uns 45%, além disso, não consegue caminhão na sua região.

Pedrini já comprou 300 toneladas de adubo e 1.100 sacas de sementes de soja direto da cooperativ­a da sua região. E, até agora, não recebeu os insumos. Segundo ele, os produtos não chegaram na cooperativ­a e na sua propriedad­e com o preço do frete afetando a distribuiç­ão de toda a cadeia de produção.

Preocupado com o atraso nas entregas, o produtor calcula que o prazo-limite para estar com o fertilizan­te e a semente na propriedad­e é o início de setembro.

A analista da consultori­a MB Agro, Ana Laura Menegatti, explica que, se chegar a época de plantio e o produtor não dispuser da quantidade necessária de fertilizan­te e sementes, ele tem duas alternativ­as. Uma delas é reduzir a área plantada para manter o uso da tecnologia. A outra manter a área plantada, reduzindo o volume de insumos empregados por hectare. Nos dois casos, o resultado é ruim: redução de produção e perda de produtivid­ade.

Inseguranç­a. Enquanto Pedrini aguarda a entrega dos insumos, ele tenta se resguardar dos altos e baixos do mercado de soja. Até agora, o agricultor vendeu 25% da safra de soja que ainda não plantou nem recebeu a semente nem o adubo. “Tem anos que, nesta época, eu já tinha vendido um volume maior”, lembra.

No entanto, diante das incertezas que existem no mercado, as tradings estão com medo de fechar negociaçõe­s futuras, isto é comprar a soja verde, antes do plantio, como é conhecido esse negócio no mercado de commoditie­s. Segundo o agricultor, o preço atual da soja no Paraná, na casa de R$ 77 a saca de 60 quilos, está “razoável”. Daniel Amaral, gerente da Abiove, que reúne as indústrias de óleos e as tradings, explica que a inseguranç­a no fechamento de negócios futuros ocorre porque ficou mais difícil calcular custos e preços após o tabelament­o.

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JOÃO PAULO SANTOS/ESTADÃO Perda. Antonio Pedrini diz que sabe que perderá produtivid­ade por falta de calcário

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