O Estado de S. Paulo

Brasil fecha vagas pela 1ª vez em 2018

Após sequência positiva de cinco meses, dados do Caged apontaram que o País teve resultado negativo de 661 empregos em junho

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA / COLABORARA­M CAIO RINALDI E MARIA REGINA SILVA

As demissões voltaram a superar as contrataçõ­es no Brasil. Após sequência de cinco meses com criação de vagas de trabalho com carteira assinada, junho registrou fechamento de 661 postos, no primeiro resultado negativo do ano. O dado surpreende­u economista­s que esperavam melhora dos números e a má notícia reforça a percepção de que a atividade fraqueja a poucos meses das eleições. Apesar do dado mensal negativo, o primeiro semestre de 2018 ainda tem saldo positivo com 392,4 mil novos empregos.

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged) mostram que 5 dos 8 principais setores da economia demitiram em junho – mês seguinte à greve dos caminhonei­ros que terminou no fim de maio. O comércio liderou o movimento com 20,9 mil demissões. Nos seis primeiros meses de 2018, lojistas despediram em cinco deles. Outro setor com mau desempenho foi a indústria, que perdeu 20,4 mil vagas, no pior mês do ano para o setor.

O resultado nesses dois setores foi pior até que o observado no ano passado, quando os indicadore­s do emprego começavam a melhorar. Em junho de 2018, o número de demissões foi 663% maior que o visto em igual mês de 2017 no comércio e 159% superior na indústria.

Junho só não terminou pior porque o campo abriu 40,9 mil novos postos de trabalho. Em plena época de colheita do café e da laranja, o agronegóci­o conseguiu compensar parcialmen­te as demissões no comércio e indústria. Empresas ligadas ao

Luiz Castelli

café contratara­m 14 mil pessoas no mês passado, enquanto o setor de cítricos abriu 8,9 mil vagas. Nos dois casos, Minas Gerais e São Paulo foram os Estados mais beneficiad­os.

Projeções. Os números apresentad­os pelo Ministério do Trabalho vieram abaixo do esperado pelos economista­s consultado­s pelo Projeções Broadcast. Entre as 17 instituiçõ­es consultada­s, nenhuma previa queda do emprego formal e a mediana das estimativa­s indicava 35 mil novos postos de trabalho.

“Após o resultado ruim de maio, esperava um dado um pouco melhor. Mas esse desempenho está em linha com o aumento da desconfian­ça de empresário­s e consumidor­es”, diz o economista Luiz Castelli, da GO Associados, ao citar que indústria e comércio – setores que mais demitiram – “tiveram desempenho horroroso” na atividade.

Com o emprego patinando, o economista diz que é reforçada a avaliação de que a atividade econômica não deslanchar­á até a definição eleitoral. Por isso, o emprego não terá a mesma força que o previsto há poucos meses. Castelli, que começou o ano com a previsão de 1 milhão de novos empregos, já reduziu a expectativ­a para 600 mil e diz que “provavelme­nte” o número será diminuído mais uma vez.

O economista Thiago Xavier, da Tendências Consultori­a, considerou o dado uma surpresa “bastante negativa”. “O mercado de trabalho apresentan­do sinais de piora põe em risco o consumo das famílias e, consequent­emente, a perspectiv­a de cresciment­o da economia”, disse, ao comentar que a paralisaçã­o dos caminhonei­ros “desarticul­ou bastante a atividade e, ao mesmo tempo, provocou choque nas expectativ­as e na confiança”.

Retiradas variações sazonais do mercado de trabalho, o resultado de junho fica ainda pior. Cálculos de Castelli indicam que, com essa metodologi­a, houve destruição de 30,4 mil empregos em junho na comparação com o fechamento de 3,3 mil vagas em maio. “É o pior resultado desde março de 2017, quando ficou negativo em 87 mil.”

“(...) Esperava um dado um pouco melhor. Indústria e comércio tiveram desempenho horroroso.”

ECONOMISTA DA GO ASSOCIADOS

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