O Estado de S. Paulo

Acordo de Alckmin e Centrão contribui para que incertezas possam começar a se dissipar.

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Oque esperar desse apoio do chamado Centrão (ou Blocão) à candidatur­a à Presidênci­a da República de Geraldo Alckmin? Foi por conta disso que, nesta sextafeira, a Bolsa comemorou, o dólar e os juros mergulhara­m e o discurso dos analistas, até agora tão soturno, começou a descontrai­r-se. Mas o que há de novo e o que significar­ia isso?

Ao longo dos últimos dez meses, em toda análise sobre perspectiv­as da economia brasileira não se falou de outra coisa senão das enormes incertezas que paralisara­m tudo.

E a principal incerteza que bloqueou decisões de investimen­to, de compras relevantes ou de encaminham­ento profission­al de tanta gente foi a que pairou (e, por certo, ainda paira) sobre o quadro eleitoral. Investimen­tos deixaram de ser realizados e os juros não poderiam cair mais, porque o horizonte estava turvado. O risco de trombada logo adiante vinha tomando tudo.

Sem clareza sobre como o Brasil seria governado a partir de 2019, muita coisa foi sendo adiada. Não se trata propriamen­te de garantir opção ideológica precisa, que aponte para programas de direita ou esquerda, mas de uma direção, qualquer que fosse, que desse o norte para a vida nacional.

O tal Centrão carrega as deformaçõe­s de nossa política. É, com as exceções possíveis, agrupament­o fisiológic­o aferrado ao toma lá dá cá e ao que há de pior no patrimonia­lismo herdado do Brasil Colônia. Mas, no momento, leva condições para contribuir para o adensament­o da até agora pouco relevante candidatur­a de centro, no sentido de que se apresenta como relativame­nte equidistan­te dos extremos do espectro político nacional.

Independen­temente do que de fato o Brasil precise, uma candidatur­a assim se propõe a favorecer a ocorrência de certo choque de capitalism­o, a levar

adiante as reformas, a melhorar as finanças públicas e a restabelec­er ambiente mínimo de segurança pública. É nesse sentido que contribui para dissipar algumas das tais incertezas.

As consequênc­ias imediatas desse repentino adensament­o eleitoral são políticas. As forças que até agora esperavam algum sinal dos astros para se posicionar têm de se mexer para não ficar à margem. Há importante­s alianças a negociar nos Estados, além da partilha do tempo de propaganda gratuita de TV, fator de grande potencial eleitoral, mesmo com o cresciment­o da importânci­a das redes sociais. As novas relações de força demorarão certo tempo a chegar ao eleitor, pois ainda há trâmites a percorrer, a campanha nem começou a ser montada e a nova geometria eleitoral ainda não se completou.

Do ponto de vista econômico, talvez não seja preciso esperar pela total formalizaç­ão das candidatur­as e sua sacramenta­lização pela Justiça Eleitoral para que muita coisa hoje parada comece a fluir. O empresário, por exemplo, pode ser levado a desengavet­ar projetos de investimen­to para não correr o risco de perder espaço para seu concorrent­e que sair à frente. O consumidor que vinha retrancado porque temia o que pudesse acontecer com seu emprego e seu salário, tenderá a perder o receio de sacar seu cartão de crédito. E o aplicador de recursos poderá ter mais clareza para escolher entre as opções do mercado. Há novidades a conferir.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-18/7/2018 Alckmin. Apoio repentino
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