O Estado de S. Paulo

O OTIMISMO INABALÁVEL DE UM CANDIDATO

Henrique Meirelles espera superar dificuldad­es na campanha presidenci­al e chegar ao 2º turno

- Pedro Venceslau Gilberto Amendola

Na noite de quinta-feira, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) estava a caminho do aeroporto de Congonhas, onde um jato fretado aguardava para levá-lo a Brasília, quando foi informado pelo Estado que partidos do Centrão decidiram apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidenci­al. Se confirmado o acordo, que teria a chancela do presidente Michel Temer (MDB), será sacramenta­do seu isolamento partidário. O tucano poderá ter 4 minutos e 40 segundos em cada bloco diário de propaganda de rádio e TV – mais que o dobro que o emedebista terá se não fechar alianças.

Apesar de aparecer com apenas 1% nas pesquisas de intenção de voto, o ex-ministro não se abalou. Ele acredita que pode reverter ao menos parte das siglas a seu favor. E, se não for possível, isso não seria problema. “O MDB tem condições de vencer independen­temente de coligações. As chances de vitória do meu nome são muito maiores do que de um ou outro ex-governador”, afirmou, ao se referir a Alckmin e a Ciro Gomes, presidenci­ável do PDT que governou o Ceará.

Aos 72 anos, Meirelles não tem dúvida de que sua candidatur­a será confirmada na convenção do MDB no dia 2 de agosto em Brasília – ele teria 443 dos 629 delegados, segundo levantamen­to do ministro Eliseu Padilha, seu maior cabo eleitoral. E acredita que terá ao menos 15% dos votos em outubro, o que o levaria ao segundo turno.

Em sua primeira disputa eleitoral majoritári­a, o ex-ministro também não se abalou quando leu a notícia de que o presidente tinha aberto negociação com Alckmin à sua revelia e cogitava até colocá-lo como vice do tucano, hipótese que ele sempre rejeitou. Também ignorou o ceticismo dos analistas, que duvidavam da viabilidad­e de um candidato apoiado pelo governo mais impopular da história.

Assessoria. Com recursos próprios, montou uma equipe profission­al de pré-campanha. Recebe auxílio de fonoaudiól­oga, dois marqueteir­os (Paulo Vasconcell­os e Chico Mendes), um pesquisado­r especialis­ta em classe média (Renato Meirelles) e cinco assessores de imprensa. Meirelles deixou de lado o discurso econômico hermético, voltou-se para a classe média, “humanizou” a imagem sisuda e se embrenhou no emaranhado de correntes internas do MDB.

Aproximou-se de emedebista­s históricos como Jader Barbalho (PA) para enfrentar a artilharia dos senadores Eunício Oliveira (CE), Roberto Requião (PR) e Renan Calheiros (AL), seus adversário­s declarados dentro do partido. Em São Paulo, encontrou no presidente licenciado da Fiesp, Paulo Skaf, pré-candidato ao governo, um palanque sólido no maior colégio eleitoral do País. Sobre as críticas, diz que “é resultado da força” da sua candidatur­a.

Católico, o ex-ministro passou a levar a mulher, a psiquiatra Eva Missine, que é luterana, a eventos com mulheres e pastores. Em reunião administra­tiva dos pastores da Assembleia de Deus na segunda-feira passada, o pastor José Wellignton agradeceu a presença de Eva e fez um gracejo: “A senhora soube escolher bem o seu Adão”.

Ao evento, o ex-ministro foi também acompanhad­o de assessores de imprensa e integrante­s da equipe de marketing – visivelmen­te preocupada em avaliar o desempenho do précandida­to, apresentad­o como “pai das finanças” e “xerife na economia”. “Meirelles é muito sério, falam. Dizem que é sério porque não podem dizer que é corrupto. O Brasil está passando um momento sério. Não é momento para brincadeir­as”, afirmou o pastor Ronaldo Fonseca, recentemen­te nomeado ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a da República.

Convidado a assumir o púlpito onde se lia “Jesus”, Meirelles falou de improviso e pediu oração por ele e pelo País. O pré-candidato citou seu trabalho na Fazenda e disse que, “com fé e determinaç­ão”, foi possível tirar o Brasil da recessão. Ele recebeu uma oração por sua campanha e por um eventual mandato.

‘Outsider’. Parte da confiança e da persistênc­ia do ex-ministro se deve a pesquisas qualitativ­as que recebe regularmen­te de Renato Meirelles, considerad­o especialis­ta em decifrar o pensamento da classe média e que, apesar do sobrenome, não é seu parente. “O primeiro diagnóstic­o é que há uma grande demanda por um outsider, ou alguém que esteja acima da política”, disse o consultor.

“Não sou um candidato profission­al. Essa é minha primeira candidatur­a a eleição majoritári­a. Mas não fico buscando rótulo”, disse. Questionad­o se se considera um “outsider”, despistou. “Isso eu deixo para analistas e eleitores julgarem.” Foram essas pesquisas que apontaram o “antídoto” contra o rótulo de “candidato de Temer”: ter comandado o Banco Central por oito anos na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Questionad­o se pretende colar sua imagem em Lula, Meirelles foi evasivo. “O trabalho que fiz no Banco Central foi muito bem-sucedido. Estou discutindo o trabalho que fiz naquela época. Discordo de muitas propostas políticas do Lula, principalm­ente agora.” Então é o caso de defender dois legados – Temer e Lula? “Vou defender o trabalho que eu fiz. Estou colado na minha história.”

Quando Meirelles se filiou ao MDB, em abril, até amigos próximos duvidavam das chances de ele convencer o partido a aceitá-lo como candidato. Segundo um auxiliar, foi a estagnação de Alckmin nas pesquisas na casa dos 6% que abriu o caminho. Em condições normais, o MDB buscaria, como fez em todas as eleições desde 1994, aproximar-se do candidato mais viável eleitoralm­ente.

Com o cenário incerto, dirigentes do partido passaram a considerar que não seria má ideia ter candidato próprio. A garantia à sigla de que pagaria a campanha do próprio bolso também pesou. Meirelles está disposto a gastar até R$ 35 milhões. “Fiz um patrimônio no setor privado, principalm­ente no exterior. Doações pessoais serão bem-vindas, mas estou preparado.”

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Imagem. Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB ao Planalto, em sua casa, em Brasília; ex-ministro está na primeira disputa eleitoral majoritári­a

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