O Estado de S. Paulo

‘Governo Temer subestimou força’, afirma deputado

Pressão para manter a aposentado­ria integral e paridade dos reajustes uniu carreiras, impediu reforma e criou CPI

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A estratégia traçada pelo governo para tentar aprovar a reforma da Previdênci­a foi um divisor de águas entre a atuação isolada das categorias e a força de coalizão que se formou. “Talvez o governo tenha subestimad­o essa bancada”, diz o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), um dos principais líderes pró-servidores na Câmara. Para ele, a campanha publicitár­ia que atacava os “privilégio­s” do funcionali­smo foi tão “injusta e cruel” que uniu os parlamenta­res e entidades de servidores espalhadas pelo Brasil.

A proposta de reforma do governo era instituir uma idade mínima para aposentado­ria, de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens. Não haveria mais benefício por tempo de contribuiç­ão. Mas o trecho que virou foco de embate foi o bloco de regras para servidores públicos, que hoje têm condições mais favoráveis do que o restante da população para se aposentar.

Enquanto os trabalhado­res privados se aposentam ganhando no máximo R$ 5.645,80 (teto do INSS), um grupo de funcionári­os públicos que ingressara­m até 2003 ainda pode levar para a aposentado­ria o último salário da carreira (até o teto de R$ 33,7 mil), mesmo que no início tenha contribuíd­o sobre valores menores. É a chamada integralid­ade. Outro benefício é a garantia a aumentos iguais aos dos servidores ativos, a chamada paridade.

Unidade. O governo queria acabar com a integralid­ade e a paridade. Depois, propôs uma regra que exigia as idades mínimas finais de 62 e 65 anos para conceder o benefício, sem nenhum tipo de transição. Os servidores não aceitaram o que considerar­am perda de direitos e se uniram para barrar a reforma.

“A pauta da Previdênci­a reuniu grupos de servidores que atuavam separadame­nte no Congresso. As agências, os policiais, os servidores do TCU”, diz o presidente da Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef), Luis Antônio Boudens.

Alçado a negociador das regras para servidores na reforma da Previdênci­a, Rosso chegou a gravar um vídeo dizendo que todo brasileiro tem pai, mãe, irmão, primo ou vizinho que é servidor. Um aviso da influência dessas categorias. O próprio governo já havia tentado mapear essa influência na busca pelos votos para aprovar a reforma. Uma tabela feita por técnicos do governo apontava 210 deputados com parentes servidores (um deles, Carlos Marun, agora é ministro).

O relator da reforma da Previdênci­a, deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA), fez pouco mais de 200 audiências ao longo das negociaçõe­s da proposta – 180 delas com entidades do funcionali­smo. “Nos debates da comissão especial, os servidores defendiam o mais pobre e no meu gabinete só defendiam o próprio salário. Era tudo jogo de cena.” As negociaçõe­s viraram tema crucial para as carreiras, que articulara­m a criação da CPI cujo relatório final diz que não há déficit nas contas da Previdênci­a.

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