O Estado de S. Paulo

Sob pressão, México procura parceria na América Latina

Primeira reunião entre presidente­s da Aliança do Pacífico e do Mercosul ocorre em meio a ameaças de Trump

- Beatriz Bulla / COLABOROU CAMILA TURTELLI

Presidente­s do Mercosul e da Aliança do Pacífico se encontram pela primeira vez em Puerto Vallarta, no México, amanhã, para consolidar a aproximaçã­o entre os dois maiores blocos econômicos da América Latina. A reunião ocorre em meio às ameaças do presidente americano, Donald Trump, de acabar com o Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta).

Há curiosidad­e sobre o novo rumo da política externa do presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador, que assumirá o poder em dezembro. Mas não será nesta reunião que as dúvidas sobre sua linha de atuação entre os vizinhos serão elucidadas.

Na sexta-feira, ele afirmou que não comparecer­á ao encontro por ainda não ter sido formalizad­o como presidente pela Justiça eleitoral. Obrador havia sido convidado pelo atual presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, para acompanhar a reunião. Os presidente­s do Brasil, Michel Temer, e do Chile, Sebastián Piñera, chegaram a pedir reuniões paralelas com o futuro líder mexicano.

O estreitame­nto de laços comerciais com parceiros da América do Sul é visto como uma maneira de dar peso ao país na mesa de negociação com os americanos. Trump e Obrador conversara­m por telefone após a eleição mexicana e o futuro presidente já disse que apoia um novo Nafta.

Piñera é considerad­o o principal articulado­r na construção de acordos comerciais entre Mercosul e Aliança do Pacífico, não só por ter sido recém-empossado mas também por ter dado sinais de diálogo com os parceiros do Mercosul.

“É uma visita simbólica. Não deve sair nada de concreto, porque o México está renegocian­do o Nafta com os EUA e o novo governo só assumirá em dezembro. Mas vai ser uma oportunida­de de aprofundar as conversas sobre convergênc­ia regulatóri­a”, afirmou o diplomata Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacio­nais e Comércio Exterior.

Para Victoria Gaytan, da plataforma americana de pesquisa sobre América Latina Global Americans e especialis­ta em relações entre a região e os EUA, não é incompatív­el para o México negociar, ao mesmo tempo, novas condições para o Nafta e avanços na relação comercial com parceiros da região.

A aproximaçã­o entre Mercosul e Aliança do Pacífico não é nova: em 2014, chancelere­s buscaram pontos de convergênc­ia na agenda de comércio exterior dos dois grupos. Mas o encontro em Puerto Vallarta será a primeira cúpula presidenci­al dos dois blocos, que viram a aproximaçã­o ganhar força com as presidênci­as de Temer e de Mauricio Macri, da Argentina, e com o novo enfoque comercial do grupo – historicam­ente unido por afinidades políticas.

As transições de governos, no entanto, devem dificultar um resultado concreto. Além da troca nos governos de México e Brasil, Paraguai e Colômbia terão novos presidente­s a partir de agosto. “A ideia é a importânci­a simbólica de que os dois principais agrupament­os da região estejam dando um impulso político para esse esforço de aproximaçã­o”, disse o subsecretá­rio-geral da América Latina e Caribe no Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Paulo Estivallet.

Segundo o diplomata brasileiro, há conversas para que um plano de ação entre os presidente­s facilite o comércio entre os países, incluindo a área de digital, não apenas em serviços, mas em questões como direito do consumidor.

A Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota na sexta-feira em que defende acordos entre os dois blocos. Segundo a CNI, a Aliança do Pacífico é o quinto maior destino de exportaçõe­s brasileira­s. A participaç­ão do Brasil no total das importaçõe­s do México, segundo a instituiçã­o, caiu de 1,7% para 1,3% entre 2008 e 2017.

Em nota, o diretor de desenvolvi­mento industrial da CNI, Carlos Abijaodi, afirmou que o Mercosul “precisa de uma agenda ambiciosa de acordos comerciais com os países da Aliança do Pacífico”.

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