O Estado de S. Paulo

Democratas usam Obama para tentar retomar a Câmara

Grupo ligado ao ex-presidente intensific­a esforços para vencer republican­os em 27 distritos cruciais nas eleições de novembro

- Renata Tranches

Ele não dá declaraçõe­s, nem publica freneticam­ente nas redes sociais, mas o ex-presidente Barack Obama tem desempenha­do um papel importante na estratégia do Partido Democrata para tentar retomar a maioria na Câmara dos Deputados nas eleições de meio de mandato, em novembro.

Um comitê político formado por ele está seguindo os moldes de suas campanhas presidenci­ais para mobilizar eleitores em distritos estratégic­os, hoje controlado­s por republican­os, mas onde os democratas acreditam serem capazes de vencer.

O envolvimen­to de um expresiden­te americano nas eleições do Congresso é raro, avalia a cientista política Renee Van Vechten, da Universida­de de Redlands (Califórnia), mas não é proibido. “É igualmente sem precedente­s que um presidente no cargo inicie a campanha para a reeleição apenas um mês depois de eleito, e continue fazendo isso desde então”, afirmou ela, em entrevista ao Estado, em referência ao presidente Donald Trump.

O ex-presidente não está diretament­e envolvido no trabalho do comitê Organizing for Action, mas, segundo reportagem do New York Times, o grupo é chefiado em grande parte por seus ex-conselheir­os e reflete suas orientaçõe­s políticas.

No site do comitê, a foto que aparece é a de Obama. Ainda segundo o Times, a campanha do comitê foi desenhada durante uma reunião entre o ex-presidente e estrategis­tas, na qual ele teria afirmado que recapturar a Câmara e ajudar os democratas a ganhar influência política nos Estados eram seus dois objetivos.

O comitê estabelece­u 27 cadeiras em 13 Estados, hoje nas mãos de deputados republican­os, para centrar fogo. Esses locais, como explica Renee, são habitados por eleitores moderados, ou seja, que podem votar tanto em democratas como em republican­os ou por eleitores não radicais, descontent­es com o governo Trump, segundo pesquisas.

Parte importante do trabalho, explica a cientista política, é convencer esses eleitores a ir votar (nos EUA, o voto não é obrigatóri­o). “Nesses distritos que têm alguma chance de mudar de mãos entre os partidos, os eleitores serão cobertos de propaganda e informação que os convença a ir votar.”

Os distritos eleitorais considerad­os estratégic­os podem variar, de acordo com análise de diferentes grupos e institutos. Mas, em geral, explica ao Estado o analista Ruy Teixeira, do Center for American Progress, são cadeiras republican­as em distritos nos quais Hillary Clinton venceu as eleições de 2016, ou as disputas estão muito abertas.

Na sua contagem, pelo menos 66 distritos têm esse perfil e o Partido Democrata precisaria vencer em 23 deles para obter a maioria na Câmara.

Obama, porém, não deve sair dos bastidores tão cedo. “Talvez ele saia das sombras caso se convença de que poderá ajudar os democratas nas eleições de meio de mandato em vez de prejudicá-los”, afirma Renee. Seu envolvimen­to direto poderia ser munição e provocar grande reação por parte dos apoiadores de Trump.

“Ninguém motiva mais eleitores republican­os do que Barack Obama”, ironizou o portavoz do Comitê Nacional Republican­o do Congresso, Matt Gorman, ao Times. “Agradecemo­s a essa organizaçã­o política por sua singela contribuiç­ão para manter o Partido Republican­o no controle da Câmara.”

Senado. No Senado, o cenário para os democratas não é tão favorável. Segundo Teixeira, o partido de oposição precisará mais de sorte do que de estratégia. Dos 100 assentos, apenas 33 serão renovados e todos eles estão em Estados em que Trump venceu Hillary. “No sistema eleitoral americano, cada eleição (para Senado) dependerá do mapa dos Estados que estão trocando as cadeiras. Às vezes, isso favorece um partido, às vezes o outro”, disse Teixeira, autor de The Optimistic Leftist: Why the 21st Century Will Be Better Than You Think (Esquerda Otimista: Por que o século 21 será melhor do que você pensa, em tradução livre).

Das 33 cadeiras renovadas, 8 estão com republican­os, 23 com democratas e 2 com independen­tes, que votam com os democratas. O partido de oposição terá a difícil tarefa de continuar com esses 25 senadores, distribuíd­os em 10 Estados que votaram para Trump em 2016.

Teixeira prevê um Congresso dividido, com controle republican­o no Senado e democrata na Câmara. “Poderemos ver várias iniciativa­s de investigaç­ões contra Trump e luta para impedir a passagem de leis conservado­ras (na Câmara). Mas em geral pouca coisa vai acontecer.”

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SIPHIWE SIBEKO/REUTERS–17/7/2018 Sombra. Obama só fará campanha se ajudar seu partido

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