Cenógrafo de ‘O Rei da Vela’ e da Tropicália morre aos 76 anos
Além do teatro, artista trabalhou no cinema e na música; fez parcerias com Zé Celso, Glauber Rocha e Chico Buarque
O cenógrafo Hélio Eichbauer morreu na sexta-feira, aos 76 anos, no Rio de Janeiro, vítima de um enfarte. O velório ocorreu neste sábado no Memorial do Carmo, no Rio.
O criador da visualidade de O Rei da Vela, de 1967, tem reconhecida contribuição na arte brasileira e na parceria com artistas como Glauber Rocha, Zé Celso, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque.
Medalha de ouro na Quadrienal de Praga, maior evento da cenografia mundial, e pupilo do checo Josef Svoboda, no início dos anos 1960 Eichbauer deixou o curso de Filosofia na Faculdade Nacional. Embarcou para a então Checoslováquia para estudar cenografia no ateliê do novo mestre.
Por 4 anos construiu maquetes, fez exercícios de composição gráfica, desenho e escultura, criou repertório até estrear profissionalmente e passar por França, Itália e Alemanha, no Berliner Ensemble, de Bertold Brecht, antes de voltar ao Brasil para consolidar sua carreira no teatro, cinema e música.
Em 1967, fez a cenografia da montagem histórica de O Rei da
Vela com o Teatro Oficina. “O que surpreendia na peça era a musicalidade e aquelas figuras caricatas falando do Brasil”, disse Eichbauer ao Estado em uma entrevista em outubro de 2017, quando a montagem voltou ao palco em São Paulo. “Muita gente achou que faltava adotar um tom mais sério, já que estávamos na ditadura. Foi só na temporada carioca que as pessoas entenderam e a peça virou um sucesso.”
Mais recentemente, ele dizia preferir trabalhar com música. É dele o cenário do show de Caetano Veloso com os filhos Moreno, Zeca e Tom, agora em turnê na Europa. Também assinou a cenografia da turnê Caravanas, de Chico Buarque.
Colegas e amigos lamentaram a morte nas redes sociais. “Cenógrafo e artista de extrema importância e contribuição com seus cenários para a cultura brasileira. Sua arte será eterna”, disse Caetano Veloso nas redes sociais. “Nos deixou ontem o colega de Tropicália Helio Eichbauer, responsável por diversos cenários da nossa música, como o de Tropicália 2 e mais recentemente o de Trinca De Ases”, escreveu Gilberto Gil.
“Temos muito talento para lidar com o improviso e com a arbitrariedade”, disse Eichbauer em outubro passado. “Na ditadura, a gente não podia parar, e hoje também não. Havia táticas para lidar com a repressão e atualmente estamos diante de um país eticamente descompensado. Nossas tribunas são os palcos, a escola e a rua.”