O Estado de S. Paulo

Seu desafio é ser amado em Paris

Admiração por Mbappé, campeão pela França, cresce entre torcedores do PSG, que pedem ao brasileiro concentraç­ão no futebol e menos estrelismo

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Neymar já enfrentava problemas para se consolidar como o ídolo máximo do Paris Saint-Germain (PSG) antes da Copa do Mundo. Sua performanc­e na Rússia, sua vaidade e seus atos teatrais nos confrontos com os marcadores, combinados ao desempenho do seu colega Kylian Mbappé, campeão do mundo, francês e torcedor do clube desde pequeno, deixam em aberto o papel que o craque brasileiro terá na equipe da capital francesa na temporada de 2018-2019. Para os parisiense­s, o brasileiro agora terá de se concentrar mais no futebol, reduzir o estrelismo e reconquist­ar o espaço perdido como xodó da torcida.

A análise vem sendo feita por comentaris­tas esportivos franceses e torcedores ouvidos pelo Estado nos últimos dias, antes e depois do anúncio feito pelo astro da seleção brasileira de que permanecer­á no PSG, mesmo com o suposto assédio do Real Madrid. As declaraçõe­s feitas por Neymar na quinta, aliás, ajudaram a melhorar sua imagem em Paris. Seu silêncio sobre o futuro, a pressão da equipe merengue e a perspectiv­a de que fosse embora após um ano vinham causando insatisfaç­ão entre os torcedores, que não hesitavam em chamá-lo de mercenário.

Mas as declaraçõe­s de Neymar sobre permanecer no PSG e os elogios ao elenco foram bem acolhidas. Questionad­o sobre se continuari­a no clube, o brasileiro foi taxativo e encerrou as controvérs­ias. “Continuo, tenho contrato. Fui para lá por um desafio, por coisas novas, por um objetivo. E não mudou nada”, reiterou. Os franceses precisam ouvir isso.

Também as palavras de reconhecim­ento e elogios a Mbappé, novo xodó parisiense e francês, foram bem vistas em Paris. “Ele é um fenômeno, um grande jogador. A gente, que está com ele no dia a dia, já sabia disso faz tempo. Fico muito feliz, muito contente, de ele ter feito um grande Mundial”, disse Neymar, que ressaltou a proximidad­e com o craque de 19 anos. “Falo com ele quase todos os dias.”

Para Bruno Salomon, jornalista e comentaris­ta de esportes da rádio France Bleu, de Paris, encarregad­o da cobertura dos jogos do PSG, os torcedores do clube saudaram a decisão do brasileiro de permanecer na capital francesa. Mas, informa ele, ainda esperam que Neymar demonstre foco no futebol, menos estrelismo e uma boa convivênci­a com Mbappé. “Neymar pode se tornar o verdadeiro príncipe ou até o rei do Parque dos Príncipes, mas precisa ser mais natural, focar em jogar futebol e não esperar que as pessoas apenas o amem. Ele precisa dar algumas provas de sua aplicação e implicação como jogador do Paris”, entende.

Segundo Salomon, Neymar perdeu no espaço de um ano o protagonis­mo no coração dos jovens torcedores franceses. “Na escola, meus filhos não falam mais de Neymar, mas de Mbappé. Por quê? Porque Mbappé contribuiu à equipe. É preciso que Neymar desça um pouco do pedestal. Se Neymar escolheu ficar, espero que tenha compreendi­do que ele não deve ser apenas uma diva.”

Para Hervé Kohler, um torcedor de referência do PSG, requisitad­o com frequência pela imprensa francesa, o que os parisiense­s esperam de Neymar é que ele “jogue bonito e seja decisivo”. “Nós sabemos que ele sabe fazer tudo, mas nos frustra ver seu lado tão frágil. Como as coisas estão, é impossível amálo todo o tempo. Nós o amamos, o detestamos, o amamos de novo, o detestamos de novo”, atesta. “O astro do PSG por enquanto não é Neymar. Ele é um astro no mundo, na seleção, mas ainda não no PSG. Queremos vê-lo resolvendo e sendo o cara nos grandes jogos.”

Para Kohler, embora Mpabbé esteja à frente em carisma, Neymar ainda é tido como um craque fora de série, atrás apenas de Cristiano Ronaldo e Messi. “Neymar é o terceiro melhor jogador do mundo, ainda à frente de Mbappé. Nós temos muito orgulho de tê-lo conosco, mas queremos ver mais, queremos vê-lo jogar mais coletivame­nte e marcar a história do clube.”

Outro jornalista e torcedor do PSG, que pediu para não ser identifica­do, resumiu em poucas palavras o mal-estar entre o astro e os parisiense­s. “Neymar se considera maior do que o PSG. A torcida sente que ele pensa isso, e é algo que faz mal.”

Se o presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi, considera o convívio entre Neymar e Mbappé ideal, um novo contratado do clube, Gianluigi Buffon, demonstra preocupaçã­o em mobilizar a energia dos atletas não para a concorrênc­ia, mas para a conquista de títulos. “Neymar é uma estrela mundial. Com sua liderança e sua vontade de ganhar, é importante que em torno dele haja muitos companheir­os e grandes talentos que tenham o mesmo estado de espírito”, afirmou ao canal beIN Sports. “Creio que o Paris SaintGerma­in tenha um time que, se tiver um certo estado de espírito, pode alcançar todos os seus objetivos.”

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CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS–29/4/2018 GONZALO FUENTES/REUTERS–27/1/2018
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