O Estado de S. Paulo

Brasil colônia

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Não sei como o amigo reage, mas tem hora em que bate tristeza com o futuro de nossa paixão pelo futebol doméstico. Explico. O Brasileirã­o voltou com tudo, houve rodada no meio da semana, com diversos clássicos, e o mesmo se repete agora. Só por aqui, tivemos ontem vitórias importante­s de Flamengo e São Paulo, e hoje o Palmeiras volta ao Allianz, depois de um mês e meio de ausência, para pegar o Atlético-MG. Fora um monte de equipes espalhadas pelo País a lutarem por título, por Libertador­es ou para não serem rebaixadas.

Bacana, não é? Também acho. Mas, os assuntos que mais nos chamam a atenção referem-se a jogadores patrícios que atuam no exterior. A transferên­cia milionária de Alisson da Roma para o Liverpool foi cantada em verso em prosa. Assim como ganhou destaque em rede nacional a apresentaç­ão oficial de Vinicius Junior no Real Madrid. Temas que atingiram o ápice de comentário­s nas redes sociais.

Também não sai da pauta o destino de Neymar. O moço saiu da Rússia de bico calado, após a desclassif­icação, e reapareceu em evento da instituiçã­o que leva o nome dele. Claro, deveria ser ouvido – e foi. Nem sei para quê, pois não saiu de chavões como “o Brasil era favorito, mas infelizmen­te não deu”, “a imprensa ouve historinha­s” (sobre possível ida para o Real Madrid), “quem não está lá (no campo) não sabe o que se passa”, etc e tal. Enfim, nada que desse pistas de amadurecim­ento após o fiasco da amarelinha.

Não bastasse, há preocupaçã­o em torno do comportame­nto dele, assim que retornar ao Paris Saint-Germain, agora que o companheir­o Mbappé se reapresent­a como campeão do mundo, revelação da Copa e deve tomar a liderança na preferênci­a da torcida. O assunto está bem retratado nesta edição, nas reportagen­s dos correspond­entes Andrei Netto e Jamil Chade.

Sob o ponto de vista jornalísti­co, não há o que discutir sobre o acerto do enfoque. Neymar é personagem internacio­nal, e brasileiro. Vale a abordagem. Assim como foi inevitável abrir espaço para o desembarqu­e de Cristiano na Juventus. Jovens e turma de meia idade se ligam na bola que rola lá fora.

Mas dá aperto – e como! Tempos atrás, as andanças de conterrâne­os por este planeta azul seriam seguidas com discreta curiosidad­e. Torceríamo­s para que fossem felizes e fizessem muitos gols, para honrar a tradição de exportador­es de talentos de alta qualidade. De vez em quando, uma entrevista maior para matar saudade. Agora, mesmo a distância se revela mais importante saber de suas diferenças com colegas de times gringos do que os percalços com os quais se deparam rapazes que atuam no nosso quintal.

Triste realidade vermos nestas bandas com maior frequência crianças, adolescent­es e marmanjos falarem em “meu Real”, “meu Barcelona”, “meu Manchester”. Já vi até “meu Verona”, “meu Alavés”, “meu Hoffenheim” e assim por diante. Eu, hein, “meu” só se for Santos, Ponte, Palmeiras...

Parece que encampamos tanto o sentimento de colônia diante do poder de grana e sedução dos europeus que ficamos até meio sem graça de admitirmos amor, única e exclusivam­ente, por agremiaçõe­s da terra. Soa fora de moda, credo!

Líderes. Isso nos absorve a ponto de a crônica deste domingo quase passar batida sobre o campeonato. Por raspão, sairia sem falar da reação do líder Fla, nos 2 a 0 sobre o Botafogo, e no baile do São Paulo, com os 3 a 1 no Corinthian­s, no Morumbi. O Tricolor voltou a mostrar futebol ousado, manteve ritmo forte do começo ao fim e nem deixou o rival respirar. Faz sombra enorme ao rubro-negro carioca – um ponto os separa. O Corinthian­s que abra o olho, com novo desmanche em andamento e queda de rendimento.

Europeus têm tanto poder de sedução que parece até feio torcermos por times daqui

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