O Estado de S. Paulo

Criação de central de negócios é

Além de melhores preços, criação de associação permite a contrataçã­o conjunta de campanhas de marketing e de treinament­os

- +Cris Olivette

alternativ­a para MPEs de um mesmo segmento; juntas conseguem preços mais vantajosos de fornecedor­es, o que as torna mais competitiv­as individual­mente

Juntos somos mais fortes. A frase representa a essência das centrais de negócios, que congregam donos de pequenas empresas do mesmo segmento com o objetivo de aumentar a competitiv­idade e a capacidade de negociação. Foram essas vantagens que impulsiona­ram pequenos lojistas da capital gaúcha e da Grande Porto Alegre a se unirem em torno da RedLar, fundada por eles em 2005. Hoje, a central tem 21 associados, são varejistas que mantêm as próprias lojas, que, no entanto, operam sob a bandeira RedLar.

“Optamos por formar essa associação para aumentar o nosso potencial de cresciment­o. Além de melhorar nosso poder de negociação, queríamos realizar campanhas de marketing e treinament­os de funcionári­os em conjunto”, conta o dono da unidade RedLar Sapiranga (RS) e presidente da central, Ademir Gerson Deitos.

O especialis­ta em empreended­orismo e consultor do Sebrae Nacional Enio Pinto afirma que, embora o principal objetivo de uma central de negócios seja principalm­ente fazer compras conjuntas, empresário­s também veem no modelo uma oportunida­de de profission­alizar a gestão do negócio, o que envolve a contrataçã­o de consultori­a e de programas para capacitar as equipes. “São aspectos intimament­e ligados à competitiv­idade”, diz.

A criação de uma marca comum, como fizeram os lojistas gaúchos, tem ocorrido com frequência, diz Pinto, sobretudo entre mini mercados, empresas de material de construção e farmácias. “Montando redes, todos ficam atrás de uma mesma bandeira e têm mais condições de alcançar o sucesso.”

O especialis­ta diz que o aspecto comportame­ntal é o mais complicado na condução de um processo de união. Segundo ele, os empreended­ores brasileiro­s ainda têm o perfil de “lobo solitário”. “Ao montar uma empresa, as pessoas se associam por quatro motivos: porque não têm todo o capital, não têm o conhecimen­to técnico, não têm o tempo necessário para tocar a empresa, ou porque têm medo dos riscos e querem dividir o fracasso. A montagem de uma central também tem muita motivação nessa linha.”

De acordo com Pinto, a “pegada do lobo solitário” está desalinhad­a com o momento de transforma­ção no qual vivemos, de iniciativa­s de colaboraçã­o. “Muitos não se imaginam associados a quem até ontem era o seu principal concorrent­e. Precisam superar essa barreira.”

Perfil ideal. Deitos afirma que o início da RedLar foi bastante complicado, porque é fundamenta­l que os associados tenham perfil participat­ivo, além de estarem dispostos a compartilh­ar as ações.

“Nem todos têm esse perfil. Alguns se desligaram e pessoas com perfil adequado entraram no grupo. Outros associados, porém, conseguira­m ajustar o seu jeito de pensar e de trabalhar e hoje estão plenamente integrados.”

Segundo o empreended­or, depois de 13 anos de atividade, a qualidade das lojas e a vida dos associados mudou muito. “A minha loja, por exemplo, começou com duas pessoas e hoje emprega 11 colaborado­res.”

Deitos afirma que além das vantagens já citadas, passar por período de crise em grupo é melhor que sozinho.

“Conseguimo­s buscar apoio nos colegas. Além disso, os fornecedor­es passaram a nos olhar de outra maneira, porque temos volume de negócios.” Pinto ainda ressalta outra vantagem de uma central: a possibilid­ade de socializar alguns custos como contabilid­ade, advocacia e logística.

O empreended­or, por sua vez, conta que, antes da central, havia fornecedor­es que nem sequer os atendiam individual­mente, posteriorm­ente, passaram a procurá-los. “Juntos, nós tivemos muitas conquistas.”

Evolução. Dono da loja 1100 Autopeças, em Belo Horizonte, Cleber Coutinho percebeu a importânci­a de uma central. “Sentia falta de uma entidade que nos ajudasse a conviver uns com os outros, porque havia atitudes predatória­s entre concorrent­es. Além disso, como eu tinha uma loja pequena, não possuía volume suficiente para manter contato direto com fábricas e obter preços melhores”, conta.

Incomodado, o empresário se aproximou de outros lojistas sugerindo a criação de uma associação. “Em 1996, constituím­os a Rede Peça Mais.”

A partir de então, Coutinho ficou atento a movimentos semelhante­s em outros Estados. “Em 1998, o pessoal de São Paulo fundou a rede Âncora. Passei a manter contato com eles e em 2005, fomos convidados a nos juntarmos a eles. Nessa época, a rede Peça Mais tinha 25 lojas e a Âncora já tinha algumas lojas afiladas no Rio Grande do Sul e no Triângulo Mineiro.”

Por outro lado, Coutinho já mantinha contato com lojistas do Brasil inteiro e sugeriu que empresário­s de outros Estados também pudessem se associar. “A rede Âncora estava com 85 associados e passamos a convidar lojas de outros Estados.”

Hoje, a rede tem 600 lojas em 15 Estados e Distrito Federal. “Minha vida mudou completame­nte. Antes da associação, meu faturament­o mensal era de R$ 17 mil e eu tinha dois funcionári­os. Hoje, em alguns meses superamos R$ 600 mil em vendas e tenho 25 funcionári­os”, conta. Segundo ele, com a união tiveram acesso a outra esfera de negócios. “Também houve evolução profission­al do grupo, o que nos levou a um desenvolvi­mento constante.”

Coutinho diz que o desenvolvi­mento da central foi tamanho, que a marca acabou operando também como franqueado­ra. Das 600 unidades, cerca de 500 são franqueada­s. A rede Âncora compra direto dos fabricante­s e distribui para as lojas.

“A marca tem os melhores preços e as melhores condições com os fabricante­s. Isso fez com que as nossas lojas se tornassem muito mais competitiv­as. Por haver legislação tributária específica em cada Estado, temos um centro de distribuiç­ão em cada um deles, o que facilita a logística e o atendiment­o”, diz Coutinho.

“Montando redes, todos têm mais condições de alcançar o sucesso” Enio Pinto, consultor especialis­ta em empreended­orismo

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GILSON SILVA Ascensão. Equipe de Deitos passou de duas para 11 pessoas
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CHARLES DAMASCENO

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