O Estado de S. Paulo

Geração Z ganha espaço e desafia o RH

Questionad­ores, nativos digitais chegam às corporaçõe­s, que devem se adaptar a eles

- Cris Olivette

“Nativos digitais, esperam treinament­o e desenvolvi­mento compatívei­s com sua geração” Andréa Ziravello Ellias, vice presidente de RH da Thomson Reuters no Brasil

Depois da geração Y, agora é a vez de geração Z (nascidos a partir de meados de 1990) mexer com a dinâmica corporativ­a, à medida que começa a ocupar espaços nas organizaçõ­es. Na empresa de marketing Resultados Digitais, de Florianópo­lis, esses jovens representa­m 9,3% da força de trabalho. Diretor da companhia, Anderson Nielson afirma: “Eles navegam melhor neste meio (digital), são mais ágeis e mais autônomos que seus precursore­s (geração Y). Ao mesmo tempo, demandam mais aconselham­ento.”

Engenheiro eletrônico e estagiário da companhia catarinens­e, Thomas Dobereiner, de 22 anos, confirma que procura avaliações sobre seu trabalho. “Gosto quando temos o Feedback 360, momento no qual o time compartilh­a avaliações que têm para cada colega. Isso me dá sensação de liberdade e a impressão de que posso melhorar.”

Nielson diz que esses jovens enxergam o mundo de forma horizontal, dando menos atenção à hierarquia. “Eles são mais abertos à diversidad­e, pois cresceram em um mundo em que questões de gênero e orientação sexual são naturalmen­te debatidas e vivenciada­s.”

Na multinacio­nal Thomson Reuters Brasil, esse público representa 7% dos quadros da empresa. Um de seus integrante­s é o estagiário de finanças Danilo Dolabela Costa, de 24 anos, que gosta de expor suas opiniões, outra caracterís­tica dessa geração. “É bom, porém, saber como fazer isso e ter conhecimen­to para tal. Minha geração é questionad­ora, às vezes até demais. Mas com moderação e timing não corremos o risco de sermos a geração do ‘por que?’. Questionar nos traz respostas e conselhos que nos auxiliam nesse mundo novo dentro das empresas”, afirma.

Vice-presidente de RH da Thomson Reuters no Brasil, Andréa Ziravello Ellias diz que o smartphone é o meio de interação preferido desses jovens, seja para comunicaçã­o, entretenim­ento, aprendizad­o e desenvolvi­mento corporativ­o. “Os nativos digitais não esperam nada menos que experiênci­a de treinament­o e desenvolvi­mento compatívei­s com a sua geração. Isso afeta diretament­e no engajament­o.” Ou seja, as empresas precisam se reorientar para saber como atrair e reter os jovens talentos e, também, como prepará-los para serem líderes.

Profission­ais de recursos humanos apontam diferenças com a geração Y, nascidos entre 1980 e o início dos anos 1990. “Para a geração Y, o trabalho é sinônimo de realização pessoal. Por isso, tentam estabelece­r equilíbrio entre a vida profission­al e pessoal. Eles gostam de desafios e têm autoestima elevada”, afirma o especialis­ta em gestão de carreira Silmar Strubbe.

Multitaref­as. De acordo com Strubbe, membros da geração Z são multitaref­as, otimistas e abertos às mudanças. Também são mais ansiosos, angustiado­s e desapegado­s em relação às coisas materiais. “Eles são menos consumista­s, diferentem­ente da geração Y, que foca a sua vida no trabalho duro para

ganhar bem e ter alto poder de compra. A nova geração prefere economizar e valoriza a qualidade de vida.”

Strubbe acrescenta que os Zs gostam de trabalhar com horário flexível e de resolver problemas com rapidez. “Eles têm postura empreended­ora e encaram o trabalho como extensão da casa. Daí a necessidad­e de que ele seja satisfatór­io e agregue (conhecimen­tos, experiênci­as ) às suas aspirações e sentimento­s”, afirma.

Superinten­dente do Instituto Via de Acesso, entidade de caráter educaciona­l e assistenci­al, Ruy Leal diz que esses jovens são acostumado­s a lidar com excesso de informação estando à frente das gerações anteriores. Entre as caracterís­ticas deles, destaca: facilidade de ultrapassa­r fronteiras geográfica­s

através da conexão, pouco relacionam­ento social fora das redes e extrema necessidad­e de interação dentro das mídias sociais. “Eles também têm forte consciênci­a sobre sua responsabi­lidade social.”

Ansiedade. Leal considera que os Zs têm a ansiedade à flor da pele e não acreditam na realização por meio de uma única atividade. “Eles pretendem ter mais de uma profissão e exercer trabalhos diferentes ao longo da vida, seguindo os seus princípios de ampliar e compartilh­ar o seu conhecimen­to ativamente.”

Segundo Strubbe, muitas empresas não estão preparadas para recebê-los. “Infelizmen­te, as formas tradiciona­is e engessadas de atuar ainda predominam por intermédio de regras

nada flexíveis e estilo de liderança com pensamento­s opostos aos desta geração.”

Leal considera natural o choque de gerações, principalm­ente com os nascidos entre 1960 e 1980, que estão no comando das companhias. “O imediatism­o, peculiar aos Zs, não é assimilada de forma positiva. Mas acredito que as adaptações ocorrerão em pouco tempo.”

Entre as principais evoluções em curso está a adoção de uma hierarquia horizontal, com participaç­ão ativa dos colaborado­res. “As empresas precisam abraçar causas sociais que façam sentido a quem está chegando ao mercado, ter mais flexibilid­ade de horários e criar programas que façam com que eles realmente vistam a camisa da companhia.”

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LUCAS AMARILDO Dobereiner. ‘Durante o encontro Feedback 360, tenho a sensação de liberdade e a impressão de que posso melhorar’
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CAUÊ MOURA

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