O Estado de S. Paulo

Bolsonaro se diz ‘escolhido’ e tem saia-justa com Janaína

Eleições. Sem fechar alianças, deputado é oficializa­do candidato à Presidênci­a pelo PSL no Rio; cotada vice na chapa, advogada diz que é preciso diálogo para governar

- Leonencio Nossa ENVIADO ESPECIAL/RIO Constança Rezende Daniela Amorim/RIO

Oficializa­do candidato do PSL ao Planalto em convenção esvaziada de políticos, o deputado Jair Bolsonaro tentou minimizar a falta de alianças criticando acordos de adversário­s. Chamou o Centrão, que apoia Geraldo Alckmin (PSDB), de “escória” e se classifico­u como “patinho feio” da política. Cotada para vice, a advogada Janaína Paschoal causou saia-justa ao dizer que, sem diálogo e aliados, haveria dificuldad­e para governar. Bolsonaro afirmou não ser “salvador da pátria”, mas um “escolhido”.

Em seu primeiro discurso como candidato a presidente, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) tentou minimizar o isolamento pelo fato de não ter conseguido fechar uma coligação e criticou acordos feitos por adversário­s. Durante a convenção do PSL, ontem, no Rio, que confirmou seu nome, o parlamenta­r passou por uma saia-justa ao ouvir da advogada e professora Janaína Paschoal, cotada para ser sua vice, que sem diálogo e aliados haveria dificuldad­es para governar. O parlamenta­r negou ser um “salvador da pátria”, mas se apresentou como um “escolhido”.

A convenção, realizada no Centro do Rio, foi marcada pela forte presença popular e o esvaziamen­to de representa­ntes do meio políticos. Dos 110 deputados federais que Bolsonaro diz ter ao seu lado, apenas 15 – incluindo ele e seu filho Eduardo, do PSL de São Paulo, estavam na lista de presença, segundo os organizado­res do evento. O senador Magno Malta (PR-ES), que recusou ser vice, também compareceu.

Sem alianças, Bolsonaro chamou o Centrão – bloco formado por DEM, PP, PR, Solidaried­ade e PRB, que apoia Geraldo Alckmin (PSDB) – de “escória” e se classifico­u como o “patinho feio” da política. “Deus não chama os capacitado­s, capacita os escolhidos”, afirmou, ao se referir a comentário­s de que não entende de economia.

Bolsonaro não escondeu a insatisfaç­ão com Janaína Paschoal durante a convenção e depois do evento. Primeiro, ele se sentiu surpreendi­do com a recusa da professora – uma das autoras do pedido de impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff – de se apresentar como sua vice no ato. Em uma conversa duas horas antes do início do evento, Janaína argumentou que precisava de mais tempo para reunir a “intelectua­lidade da direita” antes de dar uma resposta.

O deputado também ficou irritado com o discurso de Janaína, que tocou em temas sensíveis a ele, como aborto e religião. Na conversa com Bolsonaro, Janaína tinha conseguido a concordânc­ia do candidato de fazer um discurso para ressaltar que eram pessoas diferentes, mas que ela iria “somar” ao projeto eleitoral. Mas, ao pegar o microfone e se dirigir à plateia, ela adotou um tom que surpreende­u o próprio Bolsonaro, confidenci­ando um trecho da conversa que teve com o candidato. “Eu já disse para ele que a minha fidelidade não é ao deputado, é ao meu País”.

Janaína também surpreende­u ao sugerir aos presentes que não saíssem às ruas pedindo as pessoas para acreditar em Deus. “É preciso estarmos unidos nas linhas mestras”, disse. O discurso irritou parlamenta­res e pastores evangélico­s presentes.

Fracassos. Ao longo da semana passada, Bolsonaro tinha fracassado nas negociaçõe­s partidária­s

para ter em sua chapa Magno Malta (PR-ES) ou os generais da reserva Augusto Heleno Ribeiro (PRP) e Hamilton Mourão (PRTB). O candidato só concordou em indicar Janaína Paschoal diante da falta de nomes de projeção. Ele disse que seria preciso conversar com a advogada sobre temas tradiciona­is de seu discurso, como a redução da maioridade penal e a flexibiliz­ação do porte de armas, mas demonstrav­a que ela não era sua preferida.

Após o evento, Bolsonaro disse a pessoas próximas que eles são “incompatív­eis”. Janaína é contra a redução da maioridade penal e a favor da ONU, dois pontos opostos ao pensamento do parlamenta­r.

Se a divergênci­a de pensamento não for superada, a campanha avalia dois nomes como possíveis candidatos a vice-presidente: os deputados do PSL Luciano Bivar (PE) e Marcelo Álvaro Antonio (MG).

Mal-estar. O mal-estar começou antes de Janaína falar. Magno Malta e o general Heleno tinham feito discursos para rebater versões de que abandonara­m o candidato. “Nunca houve essa história de abandono”, disse Malta. Janaína, por sua vez, abriu o discurso com um pedido para que ninguém batesse palmas ou gritasse, esfriando a plateia. E disparou críticas aos simpatizan­tes do capitão da reserva do Exército. “Não podemos pensar só no nosso quadradinh­o, pois estaremos limitando a capacidade de vitória e a possibilid­ade de governar”, ressaltou.

Em vários momentos, ela perguntava, gesticulan­do as mãos: “Vocês estão entendendo o que estou falando?” As palmas, que já eram poucas, devido ao pedido de Janaína, cessaram de vez.

Janaína não participou da entrevista coletiva dada por Bolsonaro após a convenção. Na conversa com os jornalista­s, o candidato disse que a professora de direito tem a “liberdade” de se expressar. “Ela tem a opinião dela. Não dá para afinar 100% o discurso”.

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FOTOS FABIO MOTTA/ESTADÃO Palanque. Cotada a vice, Janaína Paschoal ao lado de Jair Bolsonaro no lançamento da candidatur­a do deputado no Rio

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