O Estado de S. Paulo

Vida depois do câncer

Duas vezes por semana, mulheres que venceram o câncer de mama vão treinar na raia olímpica

- /J.M.

Participan­tes de projeto do Instituto do Câncer de São Paulo remam na raia olímpica da USP: comuns nos Estados Unidos, programas voltados a sobreviven­tes da doença ganham espaço no País.

Quando chegou ao fim do tratamento contra um câncer, Geani Faria, de 50 anos, chorou – de alegria e de preocupaçã­o. De paciente a sobreviven­te, já não tinha mais de passar por sessões agressivas de quimiotera­pia, mas precisava retomar a vida com algumas limitações. “Sou superativa. Quando soube que não poderia pegar peso, fiquei inconforma­da.”

A solução veio com o esporte. A funcionári­a pública faz parte de um projeto do Instituto do Câncer de São Paulo de remo para sobreviven­tes do câncer de mama, criado em 2013, com reuniões duas vezes por semana na raia olímpica da Universida­de de São Paulo (USP). Quem vê o grupo remando, todas vestidas de rosa, não diz que ali estão pessoas que passaram por doença tão agressiva. E a ideia é justamente essa.

“Queremos quebrar o estigma e mostrar que você pode fazer qualquer coisa”, diz Christina May Moran de Brito, chefe do serviço de reabilitaç­ão do Icesp e coordenado­ra do Programa Remama. O esporte melhora a resistênci­a durante o tratamento e o vigor depois. No caso de mulheres que tiveram câncer de mama, ajuda a reduzir o inchaço no braço, possível efeito da mastectomi­a.

Geani vê esses benefícios e outros, que não se medem. “Parece que me torno mais forte com elas. A gente em festa, se divertir, em estar bem”, diz ela, que foi este mês à Itália para representa­r o País em um festival de remo para sobreviven­tes do câncer de mama.

Aos 70 anos, Carmen Lúcia Mazzei nunca havia se imaginado naquela atividade – hoje fica na ponta do barco, ditando o ritmo

das braçadas com um tambor. “Significa que estou recomeçand­o, me reinventan­do. Depois do câncer, fica a sensação de que a morte chegou, com a autoestima lá embaixo, começa a ver o cabelo cair, a fadiga da quimiotera­pia. Agora, é a celebração da vida.”

Livro. Conectar sobreviven­tes também faz parte da rotina de Fabíola La Torre, de 42 anos. Médica que trabalhava em uma UTI oncológica pediátrica, ela se viu no papel de paciente há dois anos, quando foi diagnostic­ada com câncer de mama.

Desde então, mantém um blog sobre a doença, já escreveu um livro e pretende lançar outro sobre a vida pós-tumor. “Você passa a valorizar o marido que fica do seu lado, a risada linda do seu filho. São outras prioridade­s.” Na internet, troca ideias sobre casamento, libido e beleza com mulheres que passaram pelo mesmo problema.

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FELIPE RAU / ESTADÃO
 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO ?? De rosa. Carmen dita ritmo com o tambor. ‘Sou mais forte com elas’
FELIPE RAU/ESTADÃO De rosa. Carmen dita ritmo com o tambor. ‘Sou mais forte com elas’

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