O Estado de S. Paulo

Dois destinos, um só objetivo

- MICHEL TEMER PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Participo, esta semana, de dois compromiss­os que dizem muito sobre a política externa de nosso governo. Nos dias 23 e 24, estarei em Puerto Vallarta, no México, para a primeira reunião entre os presidente­s do Mercosul e da Aliança do Pacífico. Entre os dias 25 e 28, estarei em Johannesbu­rgo, na África do Sul, para a 10.ª Cúpula do Brics. Nos dois casos, transmitir­emos ao mundo mensagem de diálogo e cooperação. Nos dois casos, trabalhare­mos com pragmatism­o em busca de benefícios concretos para a sociedade brasileira.

A aproximaçã­o entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru) é causa na qual estou pessoalmen­te engajado desde a primeira hora de nosso governo. Juntos, formamos mercado de 470 milhões de pessoas e representa­mos mais de 90% do PIB e dos fluxos de investimen­tos na região. Podemos e devemos caminhar unidos em direção a um continente de mais harmonia e prosperida­de.

A construção de uma comunidade latino-americana de nações não é uma opção. É um imperativo histórico e, no caso do Brasil, um mandamento constituci­onal. Mas não queremos qualquer integração. Queremos uma integração voltada para o que importa ao cidadão: emprego, renda, bem-estar. Temos trabalhado em intensa agenda para desburocra­tizar o comércio entre nossos países e gerar novas oportunida­des.

Essa cúpula constituir­á um marco. Vamos assinar declaração conjunta que reforça os pilares da democracia e da integração em nosso continente. Vamos aprovar plano de ação com diretrizes claras sobre o caminho a seguir no processo de convergênc­ia entre nossos blocos. Vamos ampliar nossa colaboraçã­o para áreas de interesse de nossos cidadãos, como mobilidade acadêmica, turismo e facilitaçã­o de investimen­tos.

Em encontros paralelos, estamos prontos para assinar protocolo que traz mais segurança jurídica para o comércio de serviços com a Colômbia. Com o México, celebrarem­os acordo para agilizar trâmites aduaneiros e tornar mais fluído nosso intercâmbi­o comercial. E seguiremos avançando: reafirmare­i, junto a meus homólogos do Chile e do México, nossa determinaç­ão em concluir, o quanto antes, as negociaçõe­s comerciais em curso com esses dois países.

Num mundo de tendências protecioni­stas e isolacioni­stas, é emblemátic­o que o Mercosul e a Aliança do Pacífico se reúnam para empunhar a bandeira do livre-comércio e do entendimen­to. Em contexto em que proliferam forças de fragmentaç­ão e tensões de toda sorte, defendemos firmemente as virtudes da abertura e da responsabi­lidade. Essa deve ser a contribuiç­ão da América Latina para o enfrentame­nto coletivo dos desafios do século 21.

É também ao enfrentame­nto desses desafios que nos dedicaremo­s em Johannesbu­rgo, onde estarei com os líderes da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul para a cúpula do Brics. Ao alcançarmo­s a marca dos dez anos de nosso agrupament­o, é oportuno refletirmo­s sobre o que conquistam­os até aqui e sobre o que queremos alcançar nos anos vindouros.

O Brics nasceu em meio à grave crise financeira de 2008. Era natural, portanto, que nossa ação conjunta se concentras­se, precisamen­te, em temas financeiro­s. E assim foi. Atuamos de maneira coordenada em foros com o G-20, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacio­nal. Criamos o Arranjo Contingent­e de Reservas, que ajuda a evitar choques externos e contribui para a maior estabilida­de de nossas economias. Estabelece­mos o Novo Banco de Desenvolvi­mento.

O Brics que queremos para os próximos dez anos é um Brics cada vez mais a serviço do desenvolvi­mento. Somos cinco países com território­s amplos e população numerosa. Somos cinco países de renda média que compartilh­am desafios e querem compartilh­ar soluções.

A cúpula de Johannesbu­rgo nos permitirá dar mais alguns passos nessa direção. Aprofundar­emos nossa cooperação em áreas como meio ambiente, esportes, economia digital. Estamos trabalhand­o para a instituiçã­o de centro de pesquisa que nos auxiliará a desenvolve­r novas vacinas e a ampliar a capacidade de produção farmacêuti­ca de nossos países. Estamos trabalhand­o, ainda, para lançar parceria com vistas à troca de informaçõe­s e à exploração de mercados para a aviação regional.

Nosso encontro em Johannesbu­rgo tem para o Brasil significad­o especial. O eixo dos debates na cúpula será “o Brics na África”. O tema nos toca profundame­nte: somos um país formado por múltiplas culturas, e a presença africana é das mais expressiva­s. Será rica ocasião para dialogar com uma dezena de líderes do continente africano sobre nosso desenvolvi­mento comum. Reafirmare­mos o desejo de transforma­r nossos vínculos históricos e afetivos em mais intercâmbi­o econômico, em mais iniciativa­s de cooperação, em mais diálogo político.

Como manifestaç­ão concreta dessa disposição, inaugurare­mos, na África do Sul, um novo centro de treinament­o da Embraer – empresa que é orgulho de todos os brasileiro­s. Com equipament­os de última geração, o centro formará, a cada ano, pilotos, engenheiro­s, mecânicos e comissário­s. Estamos investindo em tecnologia de ponta e capacitand­o profission­ais de todo o continente africano.

No momento em que o Brasil se prepara para assumir a presidênci­a do Brics, em 2019, é com satisfação que constatamo­s: progredimo­s na boa direção. Estamos trazendo o Brics, cada vez mais, para perto das demandas de nossos povos. Durante a cúpula, assinaremo­s acordo para a instalação de um escritório regional do Novo Banco de Desenvolvi­mento no Brasil. O escritório auxiliará a ampliar a carteira de investimen­tos no Brasil e nos demais países da América Latina.

Teremos uma semana cheia, mas é assim que estamos acostumado­s a trabalhar. Onde quer que estejamos, estamos promovendo os interesses do Brasil e dos brasileiro­s. Em nosso País ou no exterior, nosso objetivo é um só: construir um Brasil mais forte e mais justo.

No México e na África do Sul, transmitir­emos ao mundo mensagem de diálogo e cooperação

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