O Estado de S. Paulo

A poluição na Grande São Paulo

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Que os veículos pesados movidos a óleo diesel – ônibus e caminhões – são os principais responsáve­is pela poluição atmosféric­a na Região Metropolit­ana de São Paulo é fato há muito sabido. Mas agora que uma pesquisa conseguiu calcular isso com precisão, fica-se sabendo que o problema é mais grave do que se imaginava: aqueles veículos, embora represente­m apenas 5% da frota que circula na região, respondem por metade da poluição. E a solução para esse problema se revela ao mesmo tempo mais difícil e mais urgente.

Como mostra reportagem do Estado, a novidade do trabalho feito por sete cientistas brasileiro­s – com base em amostras colhidas durante três meses – e publicado na revista Scientific Reports é que ele conseguiu separar, para efeito de medição, os gases emitidos por ônibus e caminhões dos gerados por veículos leves movidos por outros combustíve­is menos poluentes. Os próprios pesquisado­res se surpreende­ram com o tamanho da contribuiç­ão dos veículos movidos a diesel para a degradação das condições ambientais da região metropolit­ana.

Segundo um dos pesquisado­res, Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universida­de de São Paulo (USP), há soluções para o problema e elas não custam caro – consideran­do-se os benefícios para a saúde da população –, mas dependem todas de “políticas públicas coerentes de longo prazo para serem implementa­das”. Uma delas é o uso de filtros disponívei­s no mercado que reduzem a emissão de poluentes de ônibus em até 95%, a um custo de R$ 10 mil a R$ 20 mil por veículo. Para os 14,4 mil ônibus da capital o custo seria de no máximo R$ 300 milhões.

Os meios legais para promover a redução da poluição causada pelos veículos pesados já existem, embora num prazo considerad­o longo por muitos ambientali­stas – 20 anos. A Lei Municipal 16.802/18, sancionada em janeiro deste ano, estabelece que a redução de poluentes dos veículos de transporte público deve ser de 50% até 2028 e de 100% até 2038. Lei anterior (14.933/09), modificada pela 16.802/18, estabeleci­a que até 2018 nenhum daqueles veículos deveria mais usar combustíve­l fóssil, por ser muito poluente. Houve, portanto, um atraso consideráv­el.

E esse atraso pode aumentar ainda mais, porque a licitação para a escolha das concession­árias do serviço de ônibus da capital, na qual aqueles prazos constam como uma das exigências, está emperrada. Os atuais contratos com as empresas de ônibus foram assinados em 2003, no governo da ex-prefeita Marta Suplicy, com validade de 10 anos. Desde que eles venceram em 2013, no governo do ex-prefeito Fernando Haddad, a licitação vem se arrastando, o que leva a sucessivas renovações dos contratos antigos.

A mais recente, por mais um ano, foi anunciada pelo prefeito Bruno Covas no dia 16 passado. Chega a ser inacreditá­vel que se demore seis anos – supondo-se que em 2019 se consiga realizá-la – para fazer uma proposta de licitação sem erros que a tornem inviável. Na última, o Tribunal de Contas do Município (TCM) apontou 90 problemas. Isso acarreta sérios prejuízos. O TCM estima que o atraso de cinco anos da licitação (de 2013 a 2018), com a sucessiva renovação dos contratos para que o serviço seja mantido em caráter emergencia­l, já custou R$ 30 bilhões ao Município.

A redução da poluição ambiental na região metropolit­ana depende fundamenta­lmente de se atingir as metas fixadas pela Lei 16.802/18. No caso específico da capital, a contribuiç­ão do Rodoanel, praticamen­te concluído, já foi dada com o desvio de grande número de caminhões que trafegavam por ela apenas de passagem.

Resta a opção do Metrô, que é o meio de transporte coletivo, rápido e eficiente, capaz tanto de substituir parte das linhas de ônibus como de levar um grande número de paulistano­s a deixar de usar o automóvel para seus deslocamen­tos diários, como mostra o exemplo de grandes cidades de países desenvolvi­dos.

Mas a ampliação do Metrô, além de cara, é demorada. Só se pode contar com ela a médio e a longo prazos.

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