Eleição do Corinthians sob suspeita
Perícias apontam falha de segurança no sistema de votação do pleito que elegeu Andrés Sanchez; Ministério Público apura possibilidade de fraude
Enquanto o técnico Osmar Loss está pressionado no Corinthians após perder o clássico para o São Paulo, os bastidores do clube fervem. A suspeita de que houve irregularidade na eleição para presidente aumentou após três auditorias constatarem falhas de segurança na votação e o Ministério Público de São Paulo deixar claro que não é possível assegurar a integridade do pleito, que recolocou Andrés Sanchez no poder.
A fraude ainda não foi confirmada. De concreto, apenas que ocorreram falhas de segurança no sistema de votação, que foi feito pela empresa contratada Telemeeting Brasil. Diante disso, na semana passada, o MP se manifestou dizendo que “ficou demonstrada a absoluta violação da confiabilidade e seriedade do pleito e o desvirtuamento do processo eleitoral de um dos maiores clubes do Brasil, vez que o presidente e chapas não foram eleitos dentro de um processo democrático íntegro, seguro, confiável e hígido.” As falhas na eleição foram encontradas pela Dynamics Perícias, contratada por Paulo Garcia, candidato que ficou em segundo lugar, Perícias Informática, paga pela Comissão Eleitoral do Corinthians, e o Instituto de Criminalística, órgão da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. São três vozes diferentes que ecoam o mesmo grito no Corinthians.
Quem apontou dados que mais levantaram dúvidas da idoneidade da eleição foi a Dynamics. Ela detectou diferença de 25 votos entre os que foram apurados e o número de sócios que assinaram a lista de presença no dia da votação. Além disso, na véspera do pleito, foi apresentado o sistema de votação aos auditores e fiscais e, após a exibição, o computador foi lacrado e gerou um código. O número, porém, apareceu diferente quando as máquinas foram checadas ao fim da votação. Não bastasse, os votos foram registrados através de uma rede Wi-Fi considerada vulnerável, pois não havia criptografia, o que facilita um acesso de terceiros aos dados eleitorais.
A Perícias Informática constatou que houve a divergência no código do computador, mas que isso ocorreu por falha de um funcionário da Telemeeting e que o problema não pôde ser corrigido após a eleição por causa da confusão generalizada no Parque São Jorge com o anúncio da vitória de Andrés Sanchez. A perícia também destaca a fragilidade da rede Wi-Fi.
O Instituto de Criminalística aponta que a alteração dos códigos se deu antes da eleição e que o sistema de votação se comportou de forma legal e esperada.
Em fevereiro, pouco tempo após a eleição, Paulo Garcia entrou com ação criminal alegando suspeita de fraude. A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso e determinou a apreensão de computadores.
Prisão. A Justiça marcou audiência para 27 de agosto. Quer ouvir os funcionários da Telemeeting. Se alguma fraude for constatada, ainda será preciso que alguém (possivelmente, membros da oposição de Andrés) entre com ação na Justiça Civil e no Conselho Deliberativo do clube para impugnar o resultado da urna, anular a eleição e realizar um novo pleito. Enquanto isso, Andrés administra o Corinthians como presidente eleito. Atestando irregularidades, os responsáveis pela Telemeeting podem ser enquadrados no artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor, que prevê pena de três meses a um ano de prisão e multa. Outros envolvidos podem ser punidos.