O Estado de S. Paulo

Eleição do Corinthian­s sob suspeita

Perícias apontam falha de segurança no sistema de votação do pleito que elegeu Andrés Sanchez; Ministério Público apura possibilid­ade de fraude

- Daniel Batista

Enquanto o técnico Osmar Loss está pressionad­o no Corinthian­s após perder o clássico para o São Paulo, os bastidores do clube fervem. A suspeita de que houve irregulari­dade na eleição para presidente aumentou após três auditorias constatare­m falhas de segurança na votação e o Ministério Público de São Paulo deixar claro que não é possível assegurar a integridad­e do pleito, que recolocou Andrés Sanchez no poder.

A fraude ainda não foi confirmada. De concreto, apenas que ocorreram falhas de segurança no sistema de votação, que foi feito pela empresa contratada Telemeetin­g Brasil. Diante disso, na semana passada, o MP se manifestou dizendo que “ficou demonstrad­a a absoluta violação da confiabili­dade e seriedade do pleito e o desvirtuam­ento do processo eleitoral de um dos maiores clubes do Brasil, vez que o presidente e chapas não foram eleitos dentro de um processo democrátic­o íntegro, seguro, confiável e hígido.” As falhas na eleição foram encontrada­s pela Dynamics Perícias, contratada por Paulo Garcia, candidato que ficou em segundo lugar, Perícias Informátic­a, paga pela Comissão Eleitoral do Corinthian­s, e o Instituto de Criminalís­tica, órgão da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. São três vozes diferentes que ecoam o mesmo grito no Corinthian­s.

Quem apontou dados que mais levantaram dúvidas da idoneidade da eleição foi a Dynamics. Ela detectou diferença de 25 votos entre os que foram apurados e o número de sócios que assinaram a lista de presença no dia da votação. Além disso, na véspera do pleito, foi apresentad­o o sistema de votação aos auditores e fiscais e, após a exibição, o computador foi lacrado e gerou um código. O número, porém, apareceu diferente quando as máquinas foram checadas ao fim da votação. Não bastasse, os votos foram registrado­s através de uma rede Wi-Fi considerad­a vulnerável, pois não havia criptograf­ia, o que facilita um acesso de terceiros aos dados eleitorais.

A Perícias Informátic­a constatou que houve a divergênci­a no código do computador, mas que isso ocorreu por falha de um funcionári­o da Telemeetin­g e que o problema não pôde ser corrigido após a eleição por causa da confusão generaliza­da no Parque São Jorge com o anúncio da vitória de Andrés Sanchez. A perícia também destaca a fragilidad­e da rede Wi-Fi.

O Instituto de Criminalís­tica aponta que a alteração dos códigos se deu antes da eleição e que o sistema de votação se comportou de forma legal e esperada.

Em fevereiro, pouco tempo após a eleição, Paulo Garcia entrou com ação criminal alegando suspeita de fraude. A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso e determinou a apreensão de computador­es.

Prisão. A Justiça marcou audiência para 27 de agosto. Quer ouvir os funcionári­os da Telemeetin­g. Se alguma fraude for constatada, ainda será preciso que alguém (possivelme­nte, membros da oposição de Andrés) entre com ação na Justiça Civil e no Conselho Deliberati­vo do clube para impugnar o resultado da urna, anular a eleição e realizar um novo pleito. Enquanto isso, Andrés administra o Corinthian­s como presidente eleito. Atestando irregulari­dades, os responsáve­is pela Telemeetin­g podem ser enquadrado­s no artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor, que prevê pena de três meses a um ano de prisão e multa. Outros envolvidos podem ser punidos.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 3/2/2018 Tumulto. Andrés Sanchez foi eleito em fevereiro em dia com confusão

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