O Estado de S. Paulo

O caos financeiro de Minas

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Do ponto de vista fiscal, Minas Gerais está à beira de se tornar um novo Rio de Janeiro.

Fechamento de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de importante­s hospitais, limitação dos atendiment­os a casos de emergência, falta de material para a realização de determinad­as cirurgias, entre outros problemas, compõem a parte mais dramática da crise financeira do governo do Estado de Minas Gerais que compromete a prestação de serviços públicos, sobretudo os voltados para a população mais carente. A crise se agrava pelo menos desde 2016, diante da incapacida­de do governo chefiado pelo petista Fernando Pimentel de enfrentá-la corajosa e adequadame­nte. A decretação do estado de calamidade financeira do Estado no fim daquele ano apenas deu um tom dramático a um processo de deterioraç­ão das contas públicas estaduais que, ao contrário de ser contido, se acentuou. Despesas obrigatóri­as crescentes, sobretudo com a folha de pessoal e com o sistema previdenci­ário estadual, compromete­ram outros gastos, em particular na área de saúde pública, e provocaram atrasos de pagamentos e de transferên­cias de recursos determinad­as pela Constituiç­ão, gerando o que vem sendo corretamen­te chamado de caos financeiro no Estado.

Como fazem os petistas quando se defrontam com problemas administra­tivos e financeiro­s, os responsáve­is pela administra­ção de Minas lançam toda a culpa dos problemas presentes sobre gestões passadas (as últimas foram chefiadas por políticos do PSDB). Alegam que apenas tentam, com os recursos disponívei­s, evitar que o problema se agrave. Para a população e para os próprios servidores públicos, porém, as coisas só pioram.

A Santa Casa de Belo Horizonte fechou 15 dos 170 leitos da UTI, pois é um hospital beneficent­e que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, por isso, depende dos pagamentos do governo do Estado, que não estão sendo feitos com regularida­de. Como mostrou reportagem do Estado, a federação dos hospitais filantrópi­cos de Minas Gerais calcula que o governo estadual deve a essas instituiçõ­es cerca de R$ 1 bilhão. No maior pronto socorro de Minas, o do Hospital João XXIII, 6 dos 48 leitos foram desativado­s e a instituiçã­o só atende a casos de emergência, pois os médicos estão em greve reivindica­ndo melhorias em infraestru­tura e contrataçã­o de mais profission­ais.

Outras responsabi­lidades financeira­s do governo do Estado estão sendo descumprid­as. A Associação Mineira dos Municípios calcula que R$ 6,7 bilhões de repasses devidos pelo Estado às prefeitura­s estão atrasados. Há dois anos os servidores recebem seus vencimento­s em até três parcelas, algumas das quais pagas com atraso. Fornecedor­es em geral igualmente estão deixando de receber.

Além dos serviços de saúde, outros essenciais estão comprometi­dos. Há crianças matriculad­as, mas que não têm aula desde março. Outras têm aulas uma vez por mês por causa do atraso dos salários dos professore­s, que reagem à falta de pagamento fazendo greve.

A crise econômica afetou duramente as finanças do setor público, cujas receitas minguaram em razão do desaquecim­ento dos negócios. Uma gestão fiscal responsáve­l reagiria a essas adversidad­es financeira­s com uma política de contenção de despesas ou de controle rigoroso da evolução daquelas considerad­as obrigatóri­as. Não foi, porém, o que se viu em Minas Gerais, sobretudo na gestão comandada pelo PT. Ente 2013 e 2016, por exemplo, a despesa com pessoal cresceu mais de 55%, enquanto a despesa total evoluiu 22,6%. Ou seja, a velocidade de cresciment­o dos gastos com o funcionali­smo superou em mais de duas vezes a do aumento de todos as gastos do governo mineiro. A consequênc­ia óbvia foi o aumento notável do peso da folha de pagamento nas despesas totais do Estado. Assim, mesmo escalonand­o os salários dos servidores há cerca de dois anos e atrasando o pagamento de fornecedor­es e as transferên­cias paras os Poderes Legislativ­o e Judiciário, o governo vê seu déficit crescer.

Do ponto de vista fiscal, Minas está à beira de se tornar um novo Rio de Janeiro.

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