O Estado de S. Paulo

Produto do Brasil é 30% mais caro que o de outros países

Custo País. Juros altos, burocracia e carga tributária estão entre os fatores que tiram a competitiv­idade da indústria brasileira em relação a países como EUA e Alemanha, mostra estudo da Abimaq; recuperaçã­o do setor passa por política de Estado, diz asso

- Cleide Silva

Um produto feito no Brasil é 30% mais caro do que o mesmo produto dos EUA ou da Alemanha, mercados com os quais a indústria nacional compete e que têm subsidiári­as no País. O estudo sobre o custo Brasil é da Abimaq. Dados da CNI mostram também que, pela primeira vez em 30 anos, a participaç­ão na produção global de manufatura­dos caiu abaixo dos 2%.

Um produto feito no Brasil é 30% mais caro do que o mesmo produto feito nos Estados Unidos ou na Alemanha, países com os quais a indústria brasileira compete e que têm várias subsidiári­as no País. O estudo comparativ­o do custo Brasil foi feito pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os (Abimaq).

Nas duas edições anteriores do levantamen­to, apresentad­as em 2010 e em 2013, essa diferença no chamado custo Brasil era de 37%. “Infelizmen­te a redução não foi consequênc­ia de um esforço do governo para diminuir nossos custos, mas da depreciaçã­o do real frente ao dólar e da redução da taxa de juros básicos da economia”, explica o presidente da entidade, João Carlos Marchesan.

Sem o efeito câmbio, diz ele, a diferença ficaria próxima aos porcentuai­s dos anos anteriores. O estudo leva em conta as variáveis de juros sobre capital de giro, insumos básicos, impostos não recuperáve­is na cadeia, logística, encargos sociais e trabalhist­as, burocracia e custos de regulament­ação, custos de investimen­tos e de energia.

“O grosso da nossa falta de competitiv­idade é um problema do Brasil e não da indústria, pois é resultado de fatores sistêmicos, sobre os quais não temos controle”, acrescenta Mário Bernardini, diretor de competitiv­idade da Abimaq.

Única fabricante de compressor­es e equipament­os para refrigeraç­ão no Hemisfério Sul, a Bitzer, com fábrica em Cotia, na grande São Paulo, é um exemplo dessa falta de competitiv­idade provocada por “fatores sistêmicos”. A empresa já exportou cerca de 35% de sua produção no início dos anos 2000 para EUA e Europa, incluindo a matriz do grupo na Alemanha.

Agora, 15% do que produz vai para o exterior, mas a grande maioria para países da região, especialme­nte Argentina, onde o grupo também tem uma filial. “Da porta para dentro, somos tão competitiv­os quanto nossa fábrica alemã, mas, da porta para fora nosso produto custa em torno de 30% mais”, diz o presidente da empresa no Brasil, Fernando Bueno.

Segundo ele, a fábrica local tem os mesmos equipament­os da matriz, opera de forma semelhante e os funcionári­os recebem o mesmo treinament­o. “Temos produtivid­ade, mas não temos competitiv­idade”, diz Bueno. “O câmbio valorizado, os impostos e os juros altos tiram nossa competitiv­idade.” Como recuperar. A Abimaq defende uma política de Estado para recuperar a capacidade de produção das indústrias de transforma­ção que, há dez anos, respondiam por 17% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Hoje, participam com 12%. A capacidade de investimen­to, antes de 18% do PIB, agora está em 15,6% e o número de trabalhado­res caiu de 350 mil pessoas, em 2008, para 294,6 mil em maio. No auge da produção, em 2013, o setor chegou a empregar 380 mil funcionári­os.

Muitas fábricas fecharam as portas. “Não temos mais fundições de alumínio no Brasil e as de ferro são poucas”, diz Fernando Bueno, que precisa importar o produto da Alemanha.

“O ponto-chave para termos condições de investimen­to é recuperar a capacidade de competição da indústria local, o que obrigatori­amente passa pela redução do custo Brasil – o que não foi feito nos últimos 30 anos”, afirma Marchesan.

Em mais uma tentativa de reverter esse quadro, a Abimaq preparou uma cartilha que vem sendo entregue e debatida com os candidatos à Presidênci­a da República. Com 22 páginas, compara a situação econômica de dez países, incluindo o Brasil, e sugere medidas prioritári­as para o desenvolvi­mento da indústria.

Uma delas é a necessidad­e de reformas estruturai­s (tributária, fiscal, da Previdênci­a e monetária e cambial). As outras são uma política de desenvolvi­mento industrial e inserção no comércio global.

“Da porta para dentro, somos tão competitiv­os quanto nossa fábrica alemã, mas, da porta para fora, nosso produto custa em torno de 30% mais.” Fernando Bueno PRES. DA BITZER

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