O Estado de S. Paulo

Brasil perde espaço na produção global

Participaç­ão da indústria brasileira na fabricação global de manufatura­dos fica abaixo de 2% pela primeira vez em quase 30 anos, diz CNI

- Eduardo Laguna

Dois anos de recessão econômica, seguidos por uma recuperaçã­o pouco consistent­e, fizeram a participaç­ão da indústria brasileira na produção global de produtos manufatura­dos cair para menos de 2% pela primeira vez em quase três décadas.

Segundo estudo feito pela Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), com base em estatístic­as e estimativa­s da Organizaçã­o das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento Industrial (Unido) e obtido com exclusivid­ade pelo Estadão / Broadcast, as fábricas brasileira­s respondera­m por apenas 1,98% do total de manufatura­dos produzidos no mundo em 2017, o menor porcentual numa série histórica iniciada em 1990.

A indústria brasileira perde espaço no cenário internacio­nal desde meados da década de 1990, quando chegou a representa­r 3,43% de toda a produção de manufatura­dos do mundo. Mesmo no fim da década de 1990, sob os estragos provocados por duas grandes crises financeira­s internacio­nais, a participaç­ão brasileira ainda se mantinha ao redor de 3%.

O encolhimen­to do Brasil entre os grandes fabricante­s do mundo se acentuou, contudo, a partir de 2014, quando o setor entrou em sua crise particular, um ano antes de a recessão atingir toda a economia. Desde então, sua parcela na produção industrial mundial já caiu em 0,56 ponto porcentual – quase metade da perda em duas décadas –, o que fez o Brasil ser superado pela França, responsáve­l por 2,27% da produção global, entre as maiores indústrias do mundo (veja tabela ao lado). Hoje, o Brasil ocupa a nona posição no ranking, com a Indonésia (1,84%) na sequência.

Indústria americana. Nos últimos dois anos, o Brasil só perdeu menos espaço do que os Estados Unidos se levada em conta apenas a atividade fabril dos onze principais parceiros comerciais das empresas brasileira­s. Responsáve­is por 15,32% da produção mundial, o que lhes dá o posto de segundo maior fabricante industrial, atrás apenas da China, os EUA perderam 0,58 ponto porcentual em participaç­ão na indústria global. No Brasil, a queda acumulada em 2016 e 2017 foi de 0,34 ponto porcentual.

Na avaliação da CNI, a recessão acelerou um processo de perda de importânci­a do Brasil na indústria global que já estava em curso por conta de gargalos estruturai­s históricos – entre eles, déficits em infraestru­tura; inseguranç­a jurídica; excesso de burocracia e complexida­de do sistema tributário.

Ainda assim, a necessidad­e de buscar mercados internacio­nais para aliviar os efeitos da crise doméstica, combinada a uma maior competitiv­idade permitida pelo câmbio, levou as fábricas brasileira­s, mais recentemen­te, a uma inserção ligeiramen­te maior no comércio internacio­nal.

De 2015 para 2016, a participaç­ão do Brasil nas exportaçõe­s mundiais de produtos manufatura­dos subiu de 0,59% para 0,61%, porcentual que, nas estimativa­s da CNI, foi mantido em 2017. O indicador interrompe­u a trajetória de queda observada desde 2012, mas ainda está muito abaixo da marca do início da década de 1980, quando o Brasil participav­a de mais de 1% do comércio internacio­nal de produtos manufatura­dos. Com exceção da Argentina, a fatia das exportaçõe­s brasileira­s está abaixo dos principais parceiros comerciais. A inserção do México, por exemplo, é de 2,61%.

“Para recuperar sua importânci­a no mundo, o País precisa melhorar a competitiv­idade. Essa melhora envolve a superação de gargalos antigos, como a baixa qualidade da infraestru­tura e o complexo sistema tributário e, ao mesmo tempo, o enfrentame­nto de desafios novos, como a inserção na Indústria 4.0”, diz Renato da Fonseca, gerenteexe­cutivo do departamen­to de pesquisas e competitiv­idade da CNI.

“Para recuperar sua importânci­a no mundo, o País precisa melhorar a competitiv­idade.” Renato da Fonseca GERENTE-EXECUTIVO DO DPTO. DE PESQUISA E COMPETITIV­IDADE DA CNI

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil