O Estado de S. Paulo

Americanos reduzem investimen­tos no Brasil

Reforma. Participaç­ão de companhias dos EUA no total de investimen­to direto feito no Brasil passou de 15,7% no ano passado para 6,6% no primeiro semestre, depois que o governo americano reduziu de 35% para 21% o Imposto de Renda das empresas

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA COLABOROU LUCIANA DYNIEWICZ

A nova política tributária do governo de Donald Trump, somada ao cenário eleitoral incerto no Brasil, tem levado empresas dos EUA a investir menos no mercado brasileiro. A participaç­ão dos americanos no total de investimen­tos diretos feitos no Brasil passou de 15,7% no ano passado para 6,6% no primeiro semestre. Essa fatia já foi de 30% em 2005.

A nova política tributária do governo de Donald Trump, somada ao cenário eleitoral incerto no Brasil, tem levado multinacio­nais americanas a investirem menos no mercado brasileiro. Dados do Banco Central mostram que o fluxo de investimen­tos dos EUA para o País caiu ao menor patamar em quase duas décadas. A participaç­ão das companhias americanas no total de recursos aplicados no Brasil passou de 15,7% no ano passado para 6,6% no primeiro semestre. Essa fatia já foi de 30% em 2005.

No fim do ano passado, a maior economia do mundo reduziu o Imposto de Renda (IR) das empresas de 35% para 21%. No Brasil, a alíquota se mantém em 34% – a mais alta entre os países do G-20 e do Brics. A média global é de 22,96%, segundo a consultori­a EY.

Um estudo da Conferênci­a das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvi­mento (Unctad) avalia que as mudanças nos EUA podem fazer com que empresas americanas repatriem até US$ 1,9 trilhão que estão em outros países.

As multinacio­nais americanas sempre lideraram com folga o ranking dos maiores investidor­es na economia brasileira. Segundo o BC, 22% de todo o estoque de empreendim­entos e projetos internacio­nais no Brasil têm origem nos EUA. São mais de US$ 100 bilhões alocados na economia brasileira, sendo US$ 38 bilhões no setor financeiro, US$ 16 bilhões na indústria de transforma­ção e US$ 5,2 bilhões no comércio de veículos.

No primeiro semestre deste ano, no entanto, quem liderou o ranking de investimen­tos foi a Holanda, com o dobro de recursos trazidos pelas empresas americanas, que entre janeiro e junho aportaram US$ 1,9 bilhão no Brasil.

“A reforma tributária levou a uma revisão completa das estratégia­s globais de empresas americanas. O Brasil também é vítima dessa mudança”, diz a presidente executiva da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), Deborah Vieitas.

Além da redução da alíquota de Imposto de Renda, a nova legislação americana também permite que as multinacio­nais repatriem recursos sem ter de pagar impostos adicionais. Antes da reforma de Trump, uma companhia americana que estava no Brasil pagava 35% de imposto para levar seu lucro de volta para os EUA, o que fazia com que ela acabasse deixando o dinheiro aqui e reinvestis­se no País. Agora, a mesma empresa tem isenção para repatriar os dividendos. “Com esse benefício, ela pode levar o dinheiro de volta e investir em outros países”, diz o advogado Christiano Chagas, do escritório Demarest.

Apesar de reconhecer a influência dessas mudanças sobre o fluxo de investimen­to direto, a presidente da Amcham afirma que as incertezas domésticas também pesaram. “Empresas estão muito cautelosas pelo cenário eleitoral, há preocupaçã­o com as reformas e tivemos redução grande das concessões e privatizaç­ões”, diz Deborah.

Pesquisa da Amcham perguntou a 130 empresário­s as razões para a recente queda do investimen­to direto no Brasil. Entre os ouvidos, 62% mencionara­m a incerteza das eleições e um grupo menor, de 34%, mencionou as novas regras tributária­s nos EUA.

A redução na alíquota do imposto por Trump, no entanto, tem levado a uma mudança global do fluxo de investimen­tos. Um estudo da Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE) mostra que o fluxo de investimen­to direto pelo mundo caiu 44% no primeiro trimestre de 2018 na comparação com o mesmo período do ano passado. A entidade atribui a queda à mudança dos investimen­tos de empresas americanas.

Dados da OCDE mostram que o fluxo de investimen­to direto das multinacio­nais americanas foi negativo em US$ 145 bilhões no primeiro trimestre. Isso quer dizer que essas companhias levaram de volta à sede recursos que estavam em filiais pelo mundo. O fenômeno do fluxo negativo não era visto desde o fim de 2005. O risco, alertam economista­s da entidade, é que a reforma tributária resulte em redução estrutural dos investimen­tos nas filiais das multinacio­nais dos EUA. /

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